– É assim ó : é como se fosse um político só que rouba menos.
– Não acredito !! Mas isso existe ? O que mais que ele tem ?
– Existe sim, só rouba menos, o resto é tudo igual: promete que vai acabar com a miséria, que vai melhorar a educação, que vai criar mais empregos. Tudo igualzinho. Antes da eleição aperta a mão de todo mundo, dá tapinha nas costas, faz agrado em criança. Depois da eleição simplesmente desaparece, não cumpre sequer metade do que prometeu, vive viajando, e xinga todos colegas de plenário com os piores palavrões.
– Mas não me diga !!
– É verdade. Faz parte de CPI que não dá em nada, envolve-se em escândalos e quando pode sai até na porrada com os outros genéricos. Uma maravilha. Como eu já disse antes a única diferença é que ao invés de roubar, digamos, 100 mil dólares ele rouba só uns 50 ou 60.
– Mas é extraordinário !! E onde é que eu encontro um desses ?
– Bom esse é o único problema. Como em tudo na política, pra encontrar o que voce quer tem de dar muita volta. Amigo meu na última eleição pensou que estava votando em genérico e se deu mal. Era um político disfarçado.
– E que tipo de disfarce eles usam ?
– De similares. Por mais que você olhe não sabe quem é quem.
– Mas e como é que a gente vai saber em quem votar então ?
– Tem algumas táticas né: genérico geralmente vem numa apresentação mais simples, mais popular. Genérico geralmente só atende pelo nome geral, como João, Pedro ou José. Já político tem outros elementos compondo o nome tipo “ Vossa Excelência”, “Nobre Deputado” “Vereador- Fulano de tal” , “Excelentíssimo Sr. Ciclano” e outras coisas assim. Mas o quente mesmo é chamar um deles pro canto e pedir algum favor em troca de voto, ou oferecer ajuda pra campanha. Se aceitar na hora é Político. Esse método é comprovado e infalível.
– Puxa valeu pelas dicas ! Vou agora mesmo procurar um genérico.
– Só um último lembrete. Se na sua busca você der de cara com um político, mantenha a calma, sorria disfarçadamente e faça de conta que está lhe dando seu apoio. Assim ele não lhe fará mal. Político é sensível ao cinismo.
– Boa tarde, seja bem-vinda à nossa agência matrimonial. A senhora com certeza está procurando um marido.
– Olha, na verdade eu estou mais interessada é num genérico.
– Genérico ? - a vendedora desvia seu olhar para baixo do balcão e começa a empurrar algo com os pés. – Como assim genérico ?
– Ah, você sabe aquela coisa comum a todos. Um homem que assista futebol, saia com outros homens de vez em quando, dê sempre respostas diretas, pode cozinhar e lavar de tempos em tempos, alguém que me dê atenção, seja fiel, ria de minhas piadas me leve para passear e me dê dinheiro para fazer compras.
– Aham ...- comenta laconicamente a vendedora, voltando a empurrar algo para debaixo do balcão. – Pois bem, olhe: lamento lhe informar mas a nossa cota de genéricos já acabou. Estaremos recebendo um novo lote só no mês que vem.
– Oh, mas que pena ! Disseram-me que eu encontraria um genérico aqui !
– Pois é, mas infelizmente estamos em falta. Mas se a senhora quiser um marido...
– Deus me livre !! Já tive três, um pior que o outro. Eu quero é um genérico que dura mais e me obedece.
– Infelizmente não posso ajudá-la. Talvez na próxima agencia a senhora encontre.
– Duvido, já estou procurando a dias. Bem não adianta ficar aqui, já vou indo..
– ATCHô !!!
– Nossa, o que foi isso ?
– Nada minha senhora, nada. – apressasse a vendedora – Venha, vou lhe acompanhar até a saída..
– Nossa ! ouviu isso de novo ? Parece que vem aqui atrás do balcão... – abaixando-se a freguesa encontra um homem todo encolhido debaixo do balcão. – Olhe !! É um genérico !! – voltando-se para a vendedora – A senhora, hein ? Escondendo genérico !!
– Em tempos de vacas magras, né ?... –conclui a vendedora com um sorriso amarelo.