...Penso numa praça ou melhor começar assim: Lembro de uma praça. Na praça que intervém com frequência entre os olhos da minha memória. Imagética. Visional. Sei que é só lembrança, semi-desconexa, déjà vu. Mas, a sinto tanto... Sei de seus cheiros, cores e vazios explícitos. Sei que essa praça arquivada quiçá aleatoriamente na memória, vivencialmente não a conheço; nem sei em que lugar pode ser que esteja. Especulo sua locação. Imagino-a aqui perto de casa mas não há praças por perto. Pode ser no limite de um precipício ou a beira-mar. Pode ser aos pés de uma montanha ou serra mas não posso precisar onde e, pode ser nas cercanias da província onde nascí, mas lá não tenho certeza que haja praças como essa; a que vejo dos olhos da memória. Pode ser que a criei com traços e linhas de praças outras por onde passei. Gosto de praça assim como de oásis e ilhas. É agradável essa praça; agradável ao olhar transeunte e aquietado por entre ela. Praça que tem um “quê” de aprazível, algo de turbulência de tufão, algo de abandonada, como um quintal de casa e também calmaria solene e silente de cemitério; tem um toque de bosque virgem, daqueles que se penetra apenas com os olhos e a alma e jamais com pés e mãos. Está claro! Essa praça é só imaginação. Nessa imaginação tem árvores tantas inclusive baobás; trilhas ariscas, bancos alheios e mesas de madeira; tem fontes e canteiros muitas vezes floridos, um ambiente que atiça lúdicos espíritos; tem capins selvagens e espalhadas pedras tão mais velhas que a memória humana; quando chove em choro o céu formam-se poças-espelhos; tem muitas sombras e muita sombra e também clareiras e cantões; pássaros vários passam por ela, a praça, a imaginação. É ordenada e naturalmente caótica; verde bucólica; ventos ventam entre suas árvores frondosas; é tão ampla como um coração amoroso e, à guisa de passos, vasta como a palma de um pé. Essa praça é e está sitiada pela urbe. É poética e boa para prosa. Telúrica. Praça que tem alma própria. Ela é só imaginação. Ela é uma praça.