Tarde dolente, cor de cinza, com chuvinha fina, pegadeira, suscitando mágoas que se juntaram através do tempo. Pela janela do carro já nem percebo postes e pessoas que passam em disparada. Quero fugir da realidade, desprender da alma o fardo de responsabilidade que a vida me confiou e sob o qual sucumbo a cada instante...
Ganho a estrada, busco o campo. A medida que avanço, inexplicável torpor me invade a mente... Paro de pensar e toda a minha vida desfila ante meus olhos. Fenômeno desconhecido que, longe de inspirar medo, inunda-me de tranqüilidade. Minha infância, meus folguedos, minha juventude, meus amores platônicos. Meus vícios, meus erros, meus defeitos, minhas poucas virtudes...
Teleportam-me a outra paisagem... a chuva cessara dando lugar à claridade do sol que entremeava seus raios dourados sobre a mata molhada. Sobre a encosta de pequena colina, arvoredo florido balouçando ao sabor da brisa da tarde emprestava aspecto deslumbrante à clareira acolhedora, verdadeiro Oásis de prodigioso bem estar, fazendo-me recordar, de imediato, os famosos bosques de Viena sobre os quais tanto aprendera em minha juventude.
Sensação de paz íntima e de respeito ao desconhecido aninharam-se em meu peito, dando-me a impressão de que penetrara mundo diferente... A Shangrilá dos meus sonhos, talvez...
Foi num átimo de segundo, se tanto... Só então compreendi que Deus é a causa misteriosa de tudo quanto existe e que eu não entendo. Manancial de todas as formas de vida é o Supremo consolo do infortúnio e a esperança de riqueza do pobre. Essência do próprio direito é a fonte de justiça do oprimido. Símbolo eterno da paz é o rumo de todas as criaturas na busca da Luz que dissipa todas as dúvidas...