Manabu Aoki nasceu no plenilúnio, em berço de oiro, cercado de amas, mas sem o amor de seus pais que, naquele tempo, já estavam em processo de separação. A mãe culpava o menino por haver trazido o esfriamento das relações do casal e o pai, com a cabeça voltada para as amantes, apenas para infernizar a vida da mulher, dizia para todos quantos lhe perguntassem que o menino era filho de um monge budista que se hospedara na sua casa há algum tempo atrás.
Assim, para que o menino tivesse uma criação a altura do prestígio da família, levaram-no para um aldeia distante, para ser criado pelos avós maternos.
Mas, ali também, não lhe foi dado amor. Os avós já estavam muito velhos e deixaram as responsabilidades da educação de Manabu para uma amiga, Iamashuira, cheia de crendices sobre a influência da luz sobre o destino das pessoas.
Ela costumava dizer: Manabu nasceu sobre a influência da lua grande, mas com um detalhe, havia uma mancha eclipsal no luar daquela noite, porisso ele vai ser um guerreiro das coisas ruins, terá a alma sempre amargurada, com espasmos de inveja sobre o seu cérebro. É, em síntese, uma pessoa atormentada e doente, porque nunca receberá todas as luzes da lua grande".
Manabu tinha sempre a cara emburrada e, nas brincadeiras infantís, tinha prazer em causar pânico e choro aos seus companheiros. Tomava os brinquedos, empurrava os outros meninos ladeira abaixo, fazia caretas, parava a brincadeira quando estava no auge.
E, sem amor, desfiava os seus dias de menino, pensando nos pais distantes e nos avós velhos, doentes e afastados dele.
Um único amigo, de quando em quando, vinha de outras aldeia visitá-lo. Seu nome, Hibumiru, olhos miúdos, bigodinho precoce, fala mansa...levavam horas e horas conversando, sabe-se lá o que.
Manabu, um certo dia, pensou que a sua sorte estava na religião, quiz ser monge. Viveu entre os budistas por um longo período, até que, tão de repente quanto ingressara, resolveu sair daquela clausura e enfrentar o mundo.
Passou muitos e muitos anos no ostracismo, levando uma vidinha inexpressiva, cobiçando o brilho de outras existências, querendo ser como determinadas pessoas.
Aí, nesssa fase, teve início o seu quarto crescente. Começou a se acercar de pessoas que poderiam guindá-lo a um posto maior, capaz de satisfazer a sua grande cobiça.
Foi feliz em algumas aventuras financeiras e amealhou mais que os seus pais tinham amealhado ao longo de suas vidas triunfantes.
Depois, atraiçoando as pessoas que nele haviam confiado, conseguiu um posto de relevo.
Estava outra vez na rota do plenilúnio. Hibumiru foi convocado para vir auxiliá-lo e, juntamente com Shamira, a malvada, e Jururushi, o samurai, começou a fazer perversidades e perseguições, naquela inexorável embriaguês que atormenta os tolos no poder, esquecendo-se de que o tempo caminha sem parar e nos conduz todos à luz minguante.
É uma terrível certeza a que nos aguarda: o tempo para o qual poucos estão preparados, o tempo das sombras e das incertezas; o tempo das memórias encarceradas e das saudades sem promessas: o tempo da lua minguante!