Desde criança gosto de olhar pela janela, na rua a mesma paisagem, nos meus pensamentos, muitas imagens. Quando criança eu fantasiava sobre qualquer pequeno detalhe, uma poça d’água que virava rio para os bonecos pequeninos, uma flor que era fada colorida, o vento que trazia folhas de uma cidade longínqua e espalhava sua magia pelo jardim.
Na janela eu esperava minha mãe que sempre demorava para voltar, vigiei à noite as águas da enchente, contei carros, assisti aos fogos.
Eu vi, escondida, o parto da égua do verdureiro.
As janelas foram muitas, imensas, solitárias, confortáveis ou apertadas como aquela portinhola da minha casa verde.
Da janela a vida eu vejo. Meus momentos de meditação quando penso na vida, nos porquês de tudo, das tristezas, das alegrias.
Quando no ônibus vou passando, e vejo um velhinho na janela de um edifício, feito estátua, com olhar distante, fico imaginando no que ele estará pensando. Em que passagem da vida, em que ano, em que pequeno detalhe da vida ele busca a felicidade.
Analisamos o mundo pelas janelas da vida. Buscamos respostas nas diversas visões que dispomos naquele momento.
Aqui nesse apartamento tenho minha poltrona favorita, em frente a janela da sala. Posso ver a avenida, do outro lado a rua, a praça, as árvores e o Ipê que verdesce e floresce.
Imagem interrompida: os trabalhadores iniciaram a construção de um novo prédio e eu acompanho aos poucos o que será a mudança da minha paisagem. A cada dia um pouco mais, até que irremediavelmente terei que trocar de janela. Ver de outro ângulo. Ainda bem que possuo outras janelas!
Mas acredito que sempre haverá outra janela e ela virá através de um livro, dos álbuns com fotos antigas, de uma visita, de um sorriso..
As janelas existem para quem acredita nelas.