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Contos-->Um caso para sueco ver -- 20/06/2003 - 16:53 (Douglas Lara) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Um caso para sueco ver (Douglas Lara)

A celeuma levantada com o garoto desaparecido no dia do nascimento, 16 anos atrás, nos fez lembrar uma história verdadeira ocorrida na década de 70. Um executivo sueco, Wagner Hanstocner, veio trabalhar no Brasil e trouxe toda a família. Pai de três filhos adolescentes, tentou se enturmar nos costumes brasileiros. Saía sempre em companhia da mulher, Hilda, também sueca, freqüentando vários locais, inclusive àqueles ligados à cultura nórdica.
Usavam e abusavam principalmente das tradicionais boates da rua Major Sertório, no centro velho de São Paulo. Procuravam se comportar e se divertir como faziam os freqüentadores. E foi numa destas noites em que o casal conheceu uma linda mulata, Berenice, que lembrava as dançarinas de Sargenteli.
Com intuito de ajudar, os estrangeiros fizeram uma grande amizade com Berenice – a Berê –, que por causa de problemas pessoais acabou indo morar na linda mansão do casal. O palacete ficava no Campo Belo, quando apenas existiam casas de altíssimo luxo, havia sido habitada por um cônsul.
O relacionamento dos três foi ficando cada vez mais próximo e com a aproximação Wagner acabou se apaixonando pela brasileira. E como Hilda não se integrou à vida brasileira, a relação do casal ficou desgastada e eles se divorciaram. Hilda voltou a morar com um dos filhos em Estocolmo. Wagner ficou com os outros dois filhos no Brasil e assumiu o relacionamento com Berê, constituindo nova família.
Apesar dos anos no Brasil, Wagner não conhecia bem a língua e cultura brasileira, e não teve como perceber que Berê não tinha estudos, era ingênua, e até mesmo ignorante (desculpem, mas tenho que escrever de forma direta para melhor entendimento desta tragicômica narrativa).
A bela mulata tinha filhos com o ex-marido, mas não com o sueco. Foi então que ela convenceu o apaixonado e inocente Wagner a adotarem um bebê. A partir daí, começou a busca; não pelos meios normais – esses eram muito lentos –, mas sim conversando com pessoas conhecidas. Todos tinham uma fórmula, que nem sempre era a mais adequada.
Foi então que apareceu uma misteriosa mulher. A senhora disse conseguiria um bebê recém-nascido numa maternidade do jeito que ela queria, mas deveria ser feito um pagamento; a senhora ainda prometeu um lindo bebê, branquinho, como uma criança sueca. Berê esperou seu marido partir para uma viagem de negócios na Suécia. Neste período, junto com a intermediária, teria a criança em seus braços fazendo uma surpresa para o marido.
Ambas colocaram o plano em prática. Foram até a maternidade escolhida e lá se posicionaram. Sem qualquer disfarce, Berenice andava de um lado ao outro nos corredores do hospital, numa impaciência sem fim. Tal situação chamou a atenção da polícia, que estava de olho, vigiando a maternidade e percebeu que algo estava errado. A bela mulata acabou sendo presa em flagrante ao sair com o bebê da maternidade.
A ingenuidade de Berenice custara caro. A intermediária sumira. A mulata fora levada para a delegacia. Ela revelara ao delegado que era casada com um sueco, e que a criança não era filho do casal e seria adotada por eles. O delegado percebeu a ignorância da moça, mas não pensou duas vezes e disse: - “só se o seu marido for um sueco-japonês, pois com estes olhinhos puxados, dá para perceber que a senhora roubou a criança. Vou ter que prendê-la”.
Berê estava tão desesperada que ligou às 2 da madrugada para o advogado da firma do marido pedindo ajuda. “Estou com um pobreminha dotô, tô presa!”. O advogado saiu desesperado para representar a mulata, tentando abafar a situação, enquanto o sueco viajava e nem sonhava com toda a confusão.
Pois é, depois de uma história assim, ainda costumo dizer que o ditado continua sendo a mais sábia das filosofias: a pressa é inimiga da perfeição.

Douglas Lara
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