- Eu quero essa pedrinha aqui. Vê como ela é até mais bonita que a tua!
- Para com isso Antônia... Ei! Maria!, vem logo aqui escolher a tua pedra. A parede já está bem alta, daqui a pouco nenhuma de nós vai poder guardar nada dentro de tijolo nenhum!
- Calma prima, foi a Lúcia quem teve essa idéia, deixa ela escolher o tijolo onde vamos esconder as pedras.
- Meninas! Entrem, não atrapalhem os moços! Vocês não vêem que estão incomodando? É melhor virem almoçar, a comida já está pronta.
- Péra aí, mãe, estamos num momento decisivo, o que vamos fazer agora pode mudar o rumo de nossas vidas. A Senhora não quer que casemos?
- Está bem, mas não demorem, ouviram? Já é quase uma hora, e daqui a pouco terei que colocar o almoço dos operários.
- Finalmente, hein Lúcia, escolheste tua pedra! Escreve logo o nome do Augusto; eu e Maria vamos escrever em nossas pedras, e quando os operário forem almoçar, cada uma escolherá um tijolo e acabamos com essa história. Estará selado o nosso destino!
15 ANOS DEPOIS...
- Querida, o som do violão está bom? Parece que o grave não está muito legal.
- Tá perfeito, Pedro, cuida logo com isso que daqui a pouco os trabalhos já vão começar. O pastor disse que hoje à noite a música tem que ser de primeira, já que temos um convidado especial.
- É mesmo, Maria, quase esqueci que o meu sogro vai nos falar hoje. Cadê as crianças? Toma conta delas aí no banco, quero que o teu pai tenha orgulho do bom comportamento dos netos.
- Pedro, falando nisso, quem diria que nós nos casaríamos! Lembro-me bem do dia em que eu e minhas duas primas fizemos uma simpatia pra ver quem namoraria com o Augusto.
- Por falar nele, como ele está?
- Ah! Pedro, pior do que nunca. Tu sabes que desde quando ele descobriu que a mão traía o pai ficou meio perturbado, não é? E tu acreditas que ontem ele estava nú, sentado em frente à nossa igreja?
- Pois é, quem diria que a mãe dele fosse um piranha! Enganou a todos com aquele jeito de santa. Jamais passou pela minha cabeça que ela metesse chifre no marido, ainda mais porque vinha todos os domingos à igreja, cantar com os irmãos!
- Tu te lembras, Pedro, da Lúcia, a mais jovem de nós três? Ela não se casou; aliás, nunca namorou ninguém. Hoje tem vinte e cinco anos, e está lá debaixo da saia da mãe. Não estuda, não trabalha. Não sabe o que quer da vida.
- E a Antônia, o que aconteceu com ela?
- Nem imaginas. Ela simplesmente decidiu ir embora daqui. Ela sempre dizia que no interior não conseguiria nada. Foi pra Belém estudar. As últimas notícias que tenho dela é que se casou há três anos com um escritor.
- Quando foi a última vez que vocês três conversaram?
- Foi há quatro anos. Depois que Antônia viajou, Lúcia se afastou de mim. Parece que ela gostava mais de Antônia do que de mim. E de nós três, era quem mais gostava de Augusto, tanto que a idéia de escrevermos o nome dele numa pedra e colocarmos nos tijolos das paredes dessa igreja, quando estava sendo construída, foi dela.
- Com que objetivo?
- A simpatia era a seguinte: cada uma de nós escolheria um tijolo, em diferentes partes da parede que estava sendo erguida, e dentro do tijolo escolhido colocaria uma pedra com o nome de Augusto escrito, marcando o tijolo com a primeira letra do nome. O tijolo que primeiramente fosse coberto com cimento, daria direito à que pôs a pedra nela namorar com Augusto, entendeu?
- E qual dos tijolos foi primeiramente coberto?
- Nenhum, porque os operários naquele dia cometeram um erro de cálculo, erguendo a parede de forma inclinada, e quando chegaram quase no topo, a parede veio abaixo, tornando-se um amontoado de cacos!
- E as pedras?
- Nós procuramos desesperadamente, mas não conseguimos achar. Elas simplesmente desapareceram nos escombros. Hoje eu me pergunto se esse fato não determinou um rumo oposto àquele que nossa imaginação infantil desejava.
- Bem querida, o passado é passado. As pessoas estão chegando. Vamos louvar a Deus, pois Ele sabe todas as coisas. O nosso coração faz planos, mas a resposta certa vem dos lábios do Senhor.
