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Contos-->Eu vi Papai Noel. Em julho! -- 03/07/2003 - 16:27 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu vi Papai Noel. Em julho!
Silvio Alvarez

Eu vi. Eu vi Papai Noel! Não, não era Natal. Estávamos no mês de julho. Ele estava deitado em uma das calçadas do centro da minha metrópole. Dormia a sono solto. Cheirava a álcool. Tinha barbas brancas, um pouco sujas e amareladas. Eram autênticas.

Papai Noel não parecia ter presentes por perto. Nem ausentes. Não tinha fila de crianças para lhe fazer pedidos também. Ninguém queria nada com aquele Papai Noel. Era impossível, entretanto, de não apreciar suas feições serenas, suas rugas cansadas e dóceis, seu dormir esparramado em meio aos transeuntes. Era possível fixar o olhar e alcançar seus sonhos!

Aquele homem parecia estar sonhando com anjos. Anjos que como ele andam pelas ruas da minha cidade à sombra das discussões inúteis e boçais dos engravatados burocratas que falarão pelo resto de suas vidas e não resolverão nada. Estes anjos têm idade, por enquanto. Seis, sete anos. E cheiram cola. Fumam crack. Às vezes juntam dinheiro para o Papai Noel ficar bêbado. Volto do meu trabalho e observo aqueles anjos todos com sacos plásticos às mãos. Dentro? Cola de sapateiro. Todo mundo conhece a história destes anjos e de todos os papais noéis espalhados pela cidade. Mas e daí? O que importa?

Dormem ao relento e nesta época fria do ano, morrem. Eles são mortais. O Papai Noel vai morrer um dia. Tal qual o executivo de políticas públicas idiota que está interessado em mostrar a seus colegas que estudou na universidade européia mais concorrida que a do amigo - tão cego quanto ele. São incapazes de ver que para, alguns problemas, não podemos esperar soluções para daqui dez anos. Ouço falar de meninos de rua desde o útero de minha mãe. Fizeram alguma coisa? Não. Mudou alguma coisa? Não. Será difícil concluir que os poucos anjos que sobreviverem às ruas serão os criminosos de amanhã? Até aquela apresentadora, sem pagar aquele tal de INSS, que considera imposto, conseguirá chegar a esta conclusão.

Vamos deixar a hipocrisia de lado e parar de falar. Não tenho hábito de escrever textos como este. Fico feito estátua, observando as mesmas cenas todos os dias, sem poder fazer absolutamente nada. E quem pode fazer, pelo amor de Deus, me responda: por que não faz?

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. Ilustração: Bruno César.
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