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Contos-->A resposta da solidão ( carta de Jaime ) -- 05/07/2003 - 10:16 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Já imaginou porquê se sentia tão triste? Ao acaso nunca fiz esta pergunta. Geralmente quando se valoriza os sentimentos, o espaço entre a solidão e a intolerância diminue. Não há nada de relativo nisso. Quando o esforço é maior entre a arte de se apaixonar, o amor vem mais rápido. Outra coisa é a simpatia: é dignificante e equivalente. Mas acentuadamente um laço de limitação - processos da admiração de outrém. É a porta de entrada, sempre convence.

Entre os homens, o estereótipo físico da sensação deve compensar o desembaraço sentimental. Neste campo existem poucas exceções, no mais, o instinto em declínio de auto-sustentação não perdurará muitas décadas. No ocidente, evidentemente. Creio eu, que o homem (macho, pau e duas bolas,abobalhado) se repete o tempo inteiro, mas é louvável com suas determinações. A cultura patriarcal, oriunda da força muscular de milênios passados, é simplista demais. Não adentra no funcionlismo social de Redcliff Brow, por isso, tende a perder seus laços.

Estou decepcionado comigo mesmo. Gostaria de fazer alguma coisa para mudar meus sonhos, só que as tentativas frustrantes de esquecê-los são muito vagas. Não tenho tanta fé como deveria ter. Toda essa mediocridade do relativismo social, a contribuição do saber científico que absorvemos com tanto esforço, tudo isso é extremamente superficial, patético. Não estou cuspindo no meu próprio prato. Como posso ser feliz se os modelos e as propostas sociais - ambas em plena decadência - são regidas pela indústria capital da grande mídia ? Como atribuir um caráter de consistência democrática com meus valores ? Se minha cor, meus cabelos, o samba, o carnaval podem ser produtos como uma máquina para as elites, então onde posso posso encontrar a razão para das elites, então onde posso encontrar a razão para explicar meus preconceitos ? Que lugar é este então...?

Palmas, novembro 2001

OFICINA DE MÚSICA

- E então Jaime, como vai o exercício?
- Muito bem, estou começando a ler partituras.
- Espero que continue assim. Bom, agora tenho que ir. Até logo Jaime!
- Até a próxima professor...
Observei-o até o momento em que atravessou a porta. Todos haviam saido. Sempre era o último a ficar na sala. O que me fazia ficar ali, sentado, era o prazer em que sentia ao ouvir seus conselhos. O cara era genial!"Um dia tocarei como ele!" - eu adorava pensar essas coisas, fazer tolas comparações. Só me levantava quando todos saiam do corredor, aí era divertido: como eu adorava falar sozinho, os ecos daquele longo teto de concreto me deixavam louco.É claro que se visse alguém, disfarçava na hora. "Dizem que todo ator ou cantor desenvolveu esta técnica". Talvez não tivesse tanta certeza disso...

Estava muito triste naquele dia. Havia recebido um encomenda lá de Belém, um violão novo, destes fabricados sob medida. Custou uma nota. Só que mamãe não me via como instrumentista clássico, e sim, como advogado. Nunca gostei de leis, emendas constitucionais, códigos civis... sempre me achei muito politizado, porém, não suficiente para tornar-me um cidadão que trabalhasse com isto. Claro, eu era alienado o suficiente para exercer o Direito. Mas adorava as falsas inspirações de meus pais, em particular de minha mãe. Ela sempre conseguiu centrar as opiniões da família, talvez por isso a brutalidade de meu pai funcionasse como um mecanismo de defesa: ela satisfazia seus gostos e o tratava como um rei. Sabia o momento exato de pedir-lhe alguma coisa, e isso era fundamental. Você acha que isso influenciaria as cordas do meu Giannini? Tenha certeza que não. Eu não era um escravo dela, ele sim.

- Oi filho, como foi a aula hoje?
- Bem mãe.
- Aquela sua amiga ligou!
- Que amiga?
- Ora, a do colégio, disse que queria fazer um trabalho de Literatura com você. Chama-se Viviane.
- Mas eu disse a ela que só quinta-feira... depois eu falo com ela no colégio.
- Porquê você não liga pra ela?
- Não precisa, e depois ela deve estar na casa da Roberta.
- Não custa nada Jaime!
- O que é isso, mãe? Desde quando a senhora me manda escolher amizades e a regulá-las!? Já não basta a ignorância do papai!
- Seu grosso, só te dei uma sugestão. Não digo mais nada.
- Parece brincadeira: todas às vezes que chego em casa sou obrigado a responder interrogatórios, quando não, falar de determinadas pessoas que nem falo em sala de aula.
- Tudo bem Jaime, já disse que não falo mais nada!
- O que há de errado no que eu falei?
- Nada, Jaime! Não te pergunto mais nada, ok?

Sempre que tocava no professor ela irritava: "você fala nesse homem o tempo todo". Qual é o problema? Ele é muito grave, insustentável para um filho único. Decadente para religiões conservadores. E o pior é que sou católico devoto,quer dizer, nem tanto. Qual o motivo de minha admiração pelo mestre ser vista com tanta preocupação? Faço perguntas demais. Mas ele realmente toca maravilhosamente bem, canta como um solista de ópera. Quando o vejo interpretar canções de Billie Holliday, esqueço de mim mesmo. Preciso ensaiar muito para a aula de amanhã...



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