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Contos-->A LUA -- 09/07/2003 - 21:08 (DANIEL CARRANO ALBUQUERQUE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A noitinha chegando suavemente, o dia se despedindo com lentidão e à minha frente, no final da estrada reta, aquele enorme medalhão de um amarelo claro, tigrado por finas nuvens em faixas, uma beleza desnorteante que poderia, perigosamente, me distrair. Cauteloso, prossegui devagar. O Sol, pensei, parecia que me orientava, me chamando: “Vem, pode vir, por aqui, vem”. Parece que nunca o havia avistado assim tão grande. Uma mistura de cores, com o vermelho agora a realçá-lo, me maravilhava ainda mais e eu, meio alucinado, o ouvi dizer:
_ Estou indo, rapaz, mas não garanto que me verás de novo. Deixo-te às trevas, agora, como faço há quase 55 anos e nunca hei de saber se te impregnarei as retinas novamente. Não posso garantir que tu venhas a saborear mais uma vez a bela aquarela que tens à frente. Fica com a noite, seus perigos, sua escuridão e as agruras que ela esconde. Volto depois para enfeitar uma maravilhosa e convidativa manhã. Construirei um cenário onde se multiplicarão sorrisos, haverei de dourar os corpos e comandarei no reinado da beleza onde serei reverenciado pelos súditos alvoroçados, permanentes adeptos das belas manhãs de domingo. Mas não tenho certeza se estarás presente àquele concerto harmonioso que repetirei amanhã. Não sei, nem mesmo, se chegarás ao fim dessa estrada. Como saber se os trajetos que, com certeza, ora são riscados nas ruas pelas balas perdidas, teu caminho não haverá de cruzar? Provavelmente, à negrura da noite, se acoitarão dedos nervosos, por muito pouco, perto de se flexionarem. Um gesto tão pequeno a traçar um destino tão grande. É certo que o álcool haverá de deturpar corações e mentes, deixando-os entregues à estupidez e à irracionalidade e que sentimentos perversos desabrocharão aos borbotões dos esconderijos íntimos dos desafetos e procurarão dar enredo à sua selvageria. Poderás estar nas suas trilhas. E se teu coração, que se exibe perfeito, te traíres e se render cansado a mais uma noite em claro ou ao meio de um sono agitado?

O Sol terminou assim o seu discurso pessimista no momento em que um morro, apiedado de mim, apareceu na primeira curva da estrada e o escondeu. E mais uma reta e lá estava de novo o medalhão, agora mais claro, prateado eu diria e curiosamente mais alto. E não parecia tão sisudo, ainda que igualmente belo. Entendi que me fora pregada uma peça. Não se tratava do Sol aquela imagem que até então me desconcertava. Era a Lua, jocosa, que se disfarçara e que agora se divertia com o meu embaraço. Ainda mais redonda, ainda maior, mais luminosa, se balançava agora de um lado para o outro, como num brinquedo de esconde-esconde, premida pelas curvas seguidas que o caminho, agora, desenhava. E
naquele bailado me dizia:
_ Venho, meu filho, te trazer a noite, que enfeito como a um adorno sem paralelo. E com ela, tenha certeza, torrentes de paixões. Vou agitar todos os corações, dos mais apáticos aos mais vulneráveis. Dos silenciosos farei emergir as mais doces palavras de amor e dos que já gritam, sairão labaredas e sons incandescentes que haverão de incendiar os pares sedentos de erotismo. Vou provocar vulcões que haverão de derramar lavas sobre espíritos aquiescentes e então não me responsabilizarei pelo que advirá. Farei voluptuosos os caminhos noturnos. Vou recriar o mundo, transbordá-lo de magia e pintá-lo com cores afrodisíacas. Despertarei, despudorada, ninfas adormecidas. Vem. Convido-te a esse banquete no qual haverás de saborear do que tem de mais temperado. Ouvirás as mais apaixonadas canções e dançarás na cadência dos sons mais ardentes. Vem, rapaz, não poupas teu coração. Trarei a ti, olhares que jamais viste, rostos em fogo revelando corações em chamas e corpos em brasa. Sorrisos que vão te levar à loucura e vão te fazer convites que não existirá compenetração que te force à recusa. Há de te render, sem dúvida, ao festival orquestrado pela minha aura prateada. Vem.

Agosto de 2001
Daniel Carrano Albuquerque
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