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Contos-->Asas quebradas - sétima parte -- 12/07/2003 - 22:14 (Alexandre da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
XI

Cheguei num ponto da loucura que não sei mais discernir o que é real, o que é mentira, o que é invenção. A minha primeira paixão foi real. A minha primeira paixão foi uma mentira. A minha primeira paixão foi invenção de uma cabeça insana, doente, carente. Fragmentos. Como aquele olhar. Mas aqueles cabelos não pertenciam àquele olhar que denunciava o meu maior erro. Eu tocava aqueles cabelos com a minha alma. Ahh, meu Deus, por que você me traiu? Eu era especial, não??? Eu era belo, invejado, não???? Eu prepararia o caminho dos Céus, a mais importante das missões concedidas a um anjo. Eu sou um anjo...eu era???
Deitada com a cabeça no meu colo, eu tocava seus cabelos com a minha alma. Não lembro quando, onde. Sei que esse foi o momento que restou, acho. Ela dormia encolhida, um leve sorriso no rosto pálido em silêncio denunciava sua alegria. Eu a protegia com toda a minha vida. No mundo inteiro, era só eu e ela. E ela dormia, calma, serena, uma musa de Wenders.
Vi um filme uma vez. Era uma história bonita. Uma espécie de hospital recebia as almas recém-desencarnadas. Cada alma tinha direito a escolher o momento mais importante de sua vida que seria transformado em filme. Esse momento, esse filme, acompanharia o morto pelo resto da vida. Poético. Encolhida como uma criança perdida, eu a protegia. Eu era eu realmente. 100%. Nada de máscaras, defesas ordinárias.

...Eu escolheria aquele instante para me acompanhar...

Puxo o cobertor até o seu queixo. Ela não se mexe, esboça um sorriso. Nenhuma luz, nenhum barulho. Apenas a respiração daquele anjo. Ela dorme em paz. Amei, amei, sim, amei. Deixo o dinheiro em cima da cômoda. O perfume dela me acompanha. É suave. Nunca mais a vi naquelas esquinas nos invernos que se passaram. As mãos naqueles cabelos. Não sei nada dela, nem seu nome. Talvez, pense em mim, quem sabe?
Minha primeira paixão não foi uma mentira. Eu quero acreditar, foi real.
Tenho que acreditar. É o que me resta.

Strawberry fields forever, dizia o outdoor que iluminava meu rosto infeliz e cansado.

O que restou???????????????????????????????????????????????????

Quem se importa..... ??


XII

O meu julgamento foi rápido. Todas as perguntas que me fiz nesse tempo todo foram respondidas. Todas, menos uma. Essa pergunta sem resposta levo para o meu túmulo. Nem Deus, nem Diabo. Fiz o que fiz porque quis. Porque a raiva tomou conta de mim. Ela não pensou, não imaginou que eu fosse capaz. Fiz mesmo. Não me arrependo de nada. Pelo chão, o sangue escorreu vermelho lavando todos os sonhos e desejos e vermes e expectativas e escarro e esperma e gozo e passado e futuro e presente. Enquanto eu fazia tudo aquilo, me sentia o mais poderosos do seres criados por Deus. Eu era o Rei. Xeque-mate. Acabei com a farsa. Acabei com ela, rápido e com muita dor. Antes daquele olhar me acompanhar pelo resto dos meus dias eu me vi nele. Não gostei do que vi. Era prazer puro. E ela ali morta, fraca, tanta soberba para terminar daquele jeito. Mereceu sim. Fiz tudo sozinho e não me arrependo de nada...
E vem chegando a primavera, nosso futuro recomeça, venha que o que vem é perfeição..Desligo o rádio, uma gota vermelha dela escorre pelos meus dedos...A noite acabou antes da hora.
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