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Contos-->A FESTINHA -- 09/08/2003 - 01:53 (Manfredo Niterói) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu o havia conhecido na casa de um amigo comum e tinha uma boa conversa e logo estávamos saindo juntos para bares, boates, teatro... Tinha um bom papo e boa aparência. Tinha uma academia relativamente renomada e gozava de boa reputação na cidade. Trocava de namoradas a todo instante. Paulinho, era como o chamávamos.

Tinha também casa no balneário onde tínhamos um apartamento e nos víamos com freqüência. Nessa época trabalhava com representação de material de construção e fiz alguns contratos com ele. Era bom pagador e comprava regularmente meus produtos pois estava sempre expandindo a academia.

Quando minha esposa fez aniversário chamei alguns amigos mais próximos e parentes para comemorarmos com um churrasco no salão de festas do prédio. Éramos umas vinte pessoas e ele, sempre prestativo, tomava conta da churrasqueira. Não havia levado nenhuma companhia feminina naquele dia e estava bem entrosado com o grupo – algumas pessoas ele já conhecia – e contava estórias sobre suas mulheres. Gabava-se de ter tido muitas mulheres e posava de garanhão. Havia algumas amigas de minha esposa sem companhia e notava-se que ele as tratava de maneira diferente. Queria deixar claro que era um conquistador.

- Então quando eu cheguei as três estavam me esperando peladinhas na piscina. Tirei minha sunga também e mandei brasa. A primeira... – pude ouvir enquanto passava. Falava com meu irmão mais novo que observava atento a estória.

Com o tempo eu já havia percebido que ele aumentava um pouco as estórias sobre suas conquistas. Nunca havia contestado quando me contava, mas por vezes parecia enfadonho tudo aquilo.

- Bom mesmo foi em Angra. Levei duas modelos daquela agência... Como é mesmo o nome? – perguntou-me quando passava servindo uma lingüiçinha que acabara de sair da brasa. – Qual o nome da agência onde trabalhava a Angélica mesmo?

- Bom, ela disse que trabalhava na Elite, mas... – ia continuar quando me cortou. Estava empolgado.

- Então, as duas eram da Elite, lindas. Fomos para Angra e quando saímos no Iate que aluguei... – não ouvi o resto pois continuei servindo os petiscos.

O que ia dizer era que ela dizia que trabalhava na Elite mas com o peso que estava quando a conheci achei impossível. Seu rosto também não era de modelo. O cabelo maltratado deixava claro que, caso fosse modelo, estava de férias. Achei melhor deixar para lá.

Quando uma das melhores amigas de minha mulher chegou logo perguntou-me. “Como é o nome daquela magrinha gostosa?” Disse que ela chamava-se Ivone e ele disse “a conheço de algum lugar” com aquela cara de como quem diz “já comi ela em algum lugar”. Não era impossível. Ivone deve ter dado para mais da metade da cidade. Ela era assim mesmo, vivia contando várias estórias sem o menor constrangimento. Dizia que era viciada em sexo e coisa e tal.

Paulinho estava empolgado e ainda contava estórias para meu irmão, que pela cara já achava que aquilo estava passando dos limites. “Vai ser comilão assim na puta que o pariu!” devia estar pensando. Ele passou a olhar insistentemente para Ivone.

A festa já se estendia por umas quatro horas e todos já havíamos bebido bastante. O som estava alto e os parentes e as pessoas mais idosas começavam a se retirar. Paulinho continuava se mostrando para as mulheres presentes. Mostrava os bíceps e pedia que elas apertassem. Algumas davam risinhos.

Estava conversando com Ivone num canto quando ele se aproximou.

- Te conheço, não te conheço, menina bonita? – disse galanteador.

- Conhece... – disse ela sem dar importância, meio irônica até.

- De onde?

- Você não ia querer se lembrar, querido... – disse ironicamente e rindo de uma maneira maliciosa.

“Ainda vou me lembrar...” disse afastando-se com sorriso de galã.

Não pude deixar de perguntar de onde o conhecia e ela contou tudo.

Havia saído com ele e uma amiga. Ele boa pinta e bom de papo, as duas resolveram dar para ele. Quando chegaram no motel já estavam trêbados e começou a sacanagem. Depois de uns cinco minutos de chupação e bolinação ele levantou-se e perguntou se alguém tinha um batom. Apontaram a bolsa da amiga e autorizaram que ele pegasse. Pediu para que elas passassem e o fizeram. Depois pediu que passassem nele. Obedeceram. Começou um a chupar o outro de batom e estava gostoso, quando ele parou novamente. Fez com que ficassem todos de pé e botou os sapatos altos de minha amiga e pediu que Ivone colocasse os dela. Quando o fez deram os braços como numa festa junina e ele quis que todos dançassem Khan-Khan, como no velho oeste.

- Porra, de onde ele tirou essa idéia não sei. Dancei um pouco e já tava achando aquilo tudo uma merda. Tava bom no início, mas essas paradas... Quando deitamos novamente ele veio com um papo de garrafa de coca-cola no rabo. Foi nessa que fui embora. A última cena que vi antes de fechar a porta foi ele de bruços e minha amiga introduzindo a garrafa na bunda dele. Maldita hora que fui dar pra ele... Tão bonito e tão estranho...

Não pude deixar de olhar para a cara dele. Estava novamente contando alguma de suas estórias. Meu irmão parecia entediado. Ele posando de gostosão agora mexia no aparelho de som e perguntou:

- E aí, vamos ouvir o quê? Quer ouvir o que, mano velho? – disse dirigindo-se a mim.

Hesitei um pouco mas não pude deixar de dizer, entre dentes:

- Sei lá... Bota um khan-khan aí.

Ele não entendeu. Renato Russo começou a cantar. A festa continuava rolando. Chamei meu irmão e quis ouvir o que Paulinho o contava. Ele narrou as aventuras do garanhão.
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