Como o sangue que corre pelas veias, porém não se vê, desenvolvia-se a conspiração. Calculava-se, planejava-se, linhas corriam sobre papéis, sonhos, pelas mentes, e o grito iminente já transbordaria dos lábios para as ruas, praças, ouvidos e corações.
Explodiria no dia sete do mês seguinte, com a conquista do centro governamental, e se espalharia facilmente, posto que a imagem do chefe estava corroída, e ele não teria estruturas, a fim de resistir a tão bem organizada e intensa revolução. As reuniões eram mais copiosas, à medida que a data se aproximava.
Mal surgiu o broto, a foice o decepou célere e impiedosa. As forças governamentais se espalharam, prenderam, mataram, furaram e sufocaram os rebeldes. A celeuma impregnou a cidade, e o cheiro quente do sangue que jorrava dos chafarizes humanos incensou o ar. As mulheres gritavam, lojas fechavam, e carros disparavam, sem que se preocupassem com um ou outro atropelado.
No dia seguinte, expuseram pedaços dos líderes do motim, ao longo das principais avenidas. Os poucos transeuntes cruzavam as calçadas encolhidos, fitando o chão e vigiando as laterais, com olhares tímidos e fulminantes. Não houve grito, apenas da garganta para baixo. Não se viram as lágrimas, que elas já eram comuns, para que fossem notadas.