Tenho tido o cuidado de pesquisar velhos alfarrábios, procurando conexões, elos, ligações com as histórias do velho monastério, erguido no limite norte da cidade, onde aconteceram os fatos que narrei algum tempo atrás.
Monges abnegados, debruçados sobre grossos volumes, escreveram trechos interessantes da vida dentro daquelas paredes sólidas, nas celas escuras e úmidas, onde tentações demoníacas perturbaram, freqüentemente, os pios religiosos, que se isolavam das mundanices, procurando respostas para suas inquietações e dúvidas.
Já lhes falei de Monsenhor Tonho, Abade Zaro, Irmã Burgos, Imatur e tantos outros.
Contei-lhes, ainda, de Frei Pius, da sua chegada ao Convento e de como ele foi colocado numa ala distante, para purgar sua atitude audaciosa num determinado dia quente de primavera, acariciando a barba de um noviço.
Bem, num trecho borrado de um dos volumes antigos onde pesquisei demoradamente, pude constatar o seguinte:
“Frei Pius conseguiu ser mandado para um prédio pertencente à ordem, situado num movimentado logradouro da cidade, cercado de residências de leigos.
Mas, consta das notícias veiculadas pelos contadores de história dessa localidade, que Frei Pius costumava despir-se do seu hábito e percorrer as dependências da edificação tal como veio ao mundo, ou seja, nu. Assim, muitas vezes, caminhava até uma das sacadas que dava, justamente, para a rua onde, todo sábado, acontecia a feira do lugar. E as pessoas começaram a sentir-se incomodadas com aquela figura rotunda, exibindo as partes pudendas.
Contam que os feirantes se reuniram e foram em comissão ao chefe do burgo com uma petição, exigindo a saída de Frei Pius para um outro convento ou, pelo menos, para uma cela dos fundos, onde não pudesse dar vazão ao seu estilo exibicionista.
Mas, o texto ficou borrado, aparentemente, por haver o redator derramado uma taça de vinho tinto sobre o papel.
Aí fiquei matutando sobre o que teria acontecido com Frei Pius, se havia sido mandado para outro local, se ficou, exibindo as suas formas brancas e obesas aos feirantes daquele logradouro.