De médico e de louco, diz o ditado popular, todos nós temos um pouco. Pois bem, não fujo a tal regrinha. Pratico o meu charlantanismo de vez em quando, receitando pessoas que me procuram para a cura dos seus males do corpo e, pasmem, até mesmo da alma. E olha que eu nunca pensei em ser sacerdote.
Bem, já faz algum tempo, meu primogênito ainda era criança. Fizemos uma pequena viagem ao Piauí e, na ida, ficamos uns dois dias em Campo Maior, no casarão onde residia o Coronel Chico Alves, avô de minha mulher e pessoa que me estimava muito e que eu muito admirava e queria bem. O motorista queixou-se de que sua filhinha fora atendida no posto de saúde e que a médica receitara uma meizinha que não estava fazendo efeito e a menina continuava se vazando numa diarréia que não tinha fim. Da prática com o filho mais velho, fácil foi prescrever um anti-diarréico, dar umas orientações de higiene, enfim, uma tentativa de por fim àquela inconveniente crise que estava minando a pobre garotinha.
Prosseguimos a viagem até Teresina, onde ficamos quase uma semana. Na volta, nova escala em Campo Maior. Risos de agradecimento do motorista. A menina ficara inteiramente curada. Deu-me, em reconhecimento, uma banda de carneiro.
Aí entrou em cena o outro motorista, que assim meio acanhado, foi dizendo:
- Dr. meu filhinho nasceu com um problema no pé, ele tem o pézinho aleijado...
Nem deixei que ele terminasse, cortei-lhe qualquer ilusão exclamando:
_ Milagre, não!