Finalmente chegara o dia. Não havia conseguido dormir direito de tão agitada e nervosa que estava durante a noite. O momento tão sonhado e esperado estava se aproximando e isso a tinha deixado excitada incapaz de conciliar o sono. Agora sentia-se calma e tranquila exibindo no rosto um sorriso malicioso de imensa satisfação que sentia ao pensar na própria ousadia. Afinal, iria romper definitivamente com as barreiras que durante tantos anos a impediam de ser completamente livre para fazer o que bem entendesse.
Sentia-se feliz e a despeito de outras pessoas, sabia que iria desafiar regras de sociedade, mas pouco se importava com isso, queria se sentir amada, protegida, ter atitudes audaciosas, amar e agir livremente, ser uma verdadeira mulher. Estava disposta a ignorar as convenções sociais e viver o seu quinhão de felicidade ainda que provisório.
Sorriu ao pensar naquele que havia provocado tamanha mudança na sua maneira de pensar e na sua vida. Lembrou-se do primeiro contato, das conversas , das divergências que haviam enfrentado e superado, de como aos pouquinhos ele a foi envolvendo sem que nada pudesse fazer para evitar. A princípio tentou resistir e não conseguiu, ele era por demais envolvente e logo se sentiu atraída pelo seu jeito malicioso de escrever e da sua voz de menino levado.
Diferente de todos que conhecera até então, ele se destacava pela sua maneira paciente de conquistar e de convencer, fazendo com que ela se interessasse e com o passar do tempo se apaixonasse por completo. Sentia-se rendida, com suas defesas abertas e já havia decidido não mais resistir e se entregar incondicionalmente num encontro amoroso que prometia ser emocionante e inesquecível. A segurança que ele incutia a fazia esquecer o medo de decepcioná-lo, tão logo ele a visse e tomasse conhecimento do segredo que ela, prudentemente, achou melhor não contar.
Haviam planejado tudo meticulosamente como se fossem assaltar um grande banco. Para justificar a ausência de casa daria para os pais uma desculpa qualquer, apanharia o namorado no local e hora combinados quando ele chegasse na cidade e a avisasse pelo celular. Após se conhecerem e conversar um pouco, rumariam para o motel escolhido onde ficariam a maior parte do tempo. Tudo daria certo. Não havia como dar errado.
Olhou no relógio. 9 da manhã de sábado. Um sábado e um dia que seria muito especial.
O sol fraco que entrava pela janela da cozinha prenunciava um bonito dia de céu límpido e azul bem de acordo como ela se sentia e propício para o que pretendiam fazer. Também se estivesse um dia chuvoso e frio não faria a mínima diferença. Aos 35 anos e virgem ainda, estava realmente decidida a dar o grande passo e tomar a atitude que por muito tempo havia adiado.
Ele já deveria estar a caminho e estaria tão ansioso quanto ela pelo encontro. Ela só tinha que aguardar para viver aquele que seria com certeza o dia mais feliz da sua vida.