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Contos-->Sob medida -- 03/12/2003 - 18:42 (Paulo Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Arlindo viu-se, defronte ao espelho, sob medida. Arlindo viu-se terno e gravata sob medida. Corte reto, impecável. Beijaram a bochecha de Arlindo. Orgulho da mamãe e do papai.
Arlindo ainda olhava-se no espelho e as espinhas não disfarçavam um resquício de adolescência. Ajeitaram a gravata de Arlindo, assim como lhe ajeitaram a vida.
Pois eh Arlindo ! Você não escolheu o seu caminho. Escolheram ele pra você. Acontece amigo. Não lhe deram tempo. Alias, você não o pediu. Não achou que merecesse paciência. Também sob aquela enxurrada de conselhos. Você só tinha 18 anos Arlindo. Natural querer agradar a família. Eles queriam um advogado Arlindo. E você conseguiu. Vai colar grau Arlindo. Parabéns.
Sorriso amarelo defronte o espelho. Sorriso sob medida. Feliz como manda o protocolo. A vida de protocolos esperava Arlindo. E as tapinhas nas costas. Todo mundo orgulhoso do primogênito.
Arlindo vestiu sua mortalha. Não deveria pensar assim. A conclusão dos seus cinco anos de estudos não deveria ser encarada como um velório. Você fez todos felizes Arlindo. E agora e só seguir adiante. Você tem 22 anos Arlindo, logo vai se acostumar a fazer o que não gosta. Talvez você tenha sorte e lhe reste pouco tempo de vida. Ninguém sabe.
Arlindo seguiu resignado entre os formandos. Arlindo seguiu peixe fora d’água naquele mar de entusiasmo. Naquele mar negro de becas. E aquele chapeuzinho quadrado e ridículo. “Mas mamãe disse que eu fiquei ate bonito com aquele chapéu”. Pois eh Arlindo! Escolheram o seu caminho.
E papai orgulhoso lhe comprou um anel. Grande e brilhante. Ele teve que dividir o pagamento do reluzente ouro Arlindo, mas pra você, o orgulho da família o que seria mais bem sucedido, Dr Arlindo, vale qualquer sacrifício. Olha o sorriso do seu pai Arlindo, não lembra nem das prestações do anel.
Turma de Direito de 2002 !!!!
E Arlindo abriu a fila. Um por um caminharam. E os flashes salpicaram no rosto de Arlindo.
Chamaram seu nome. Ele seguiu para receber o diploma. Não pensava em nada. Arlindo seguiu com a mente vazia e com uma leve camada de suor lhe banhando a testa. Era muito tarde pra lamentar Arlindo, você não tem coragem pra isso. Como dizer que você não queria. Dizer agora ! depois de toda essa batalha Arlindo. Você não podia.
Apertou as mãos seguindo o cerimonial. Segurou o seu diploma e o ergueu sobre a cabeça proclamando a vitória. Ergueu-o diante dos olhos felizes dos familiares e amigos. E Arlindo, com um sorriso quadrado, seguiu mostrando os dentes. As fotos emolduravam o olhar perdido de Arlindo.
Aqueles que estavam próximos juram que o ouviram cantar baixinho:
“o meu papel. Meu canudo de papel.”


Paulo Lima
03.12.03


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