Benedito acordou muito cedo, foi ao banheiro, fez xixi, escovou os dentes e foi verificar se havia algum presente no sapatinho que colocara na varanda do apartamento popular onde morava com a mãe, a lavadeira Severina da Silva.
Abriu um sorriso amplo quando viu o carrinho de metal que andara povoando os seus sonhos modestos durante o ano inteiro.
Ouvira dizer que Papai Noel só presenteava as crianças bem comportadas, daí procurara ser exemplar: ajudava a mãe nas tarefas do dia a dia, embora tivesse apenas sete anos, mas o seu amadurecimento precoce revelava uma idade acima dos janeiros que havia testemunhado; estudara com afinco e fora o esforço retribuido com excelentes notas na escola; procurara tratar bem todas as pessoas , por isso que os vizinhos gostavam tanto dele.
Fez a cartinha no mês de novembro. Caprichou na caligrafia para que o velhinho(usava óculos, tinha a vista cansada) entendesse bem o seu pedido.
Severina leu a carta com dificuldade, tinha poucas letras, estudara apenas dois anos, mas, ainda assim, viu que o filho queria tanto aquele carrinho que mostrara para ela na vitrina da casa de brinquedos.
Pensou que o filho era tão bom, que merecia realmente qualquer sacrifício da parte dela. Resolveu, então, que andaria a pé durante todo o restante de novembro e parte de dezembro para ter condição de comprar aquilo que o filho pedira a Papai Noel.
Assim fez. Na antevéspera do Natal, vibrando de satisfação, adquiriu o carrinho e o colocou no sapatinho da criança.
Agora, vendo o filho sorrir, sentiu no peito a imensa alegria maternal de ver o filho feliz.