Chovia lá fora, as pequenas gotículas molhavam a vidraça.
Não poderia ter acontecido aquilo, depois de tanto tempo. Ele bateu a porta da frente e saiu no meio da chuva, não sabia para onde iria, mas ali não era mais seu lugar.
Ela, encostada na parede do corredor, sentia escorrer suas lágrimas pelo seu pálido rosto.
- Não é assim... - entre soluços tentava chamá-lo, mas ele já tinha virado a esquina.
Levantou-se dali e saiu atrás dele, procurava forças, palavras...
Quando aproximou-se, ele entrou em um ônibus, e pela janela, viu aquele olhar de adeus. E assim o vira partir da sua vida, para sempre.
Andou sem rumo, por ruas desconhecidas, casas nunca vistas. A chuva acalmara, as árvores davam seus últimos pingos.
Não encontraria mais mensagens na sua secretaria elêtronica, não ouviria mais aquela voz ao celular, não o teria mais ao amanhecer.
O céu já estava escuro, as luzes que enfeitavam as casas denunciavam o Natal.
- Um Natal sem ele... - suspirava.
Finalmente chegara em casa. Estava ainda do mesmo modo que deixara. Caiu sobre o sofá, mesmo que molhada, ficou longo tempo ali, olhando para as paredes que podiam contar uma história de amor; as fotos na estante; a porta de entrada.
Mal viu o sol invadir sua sala, sentiu-se ainda presa a noite anterior.
Subi até seu quarto, vi sua cama, vi-o ali em tantas noites. Ele deixara lá seu livro, seus óculos, deixara-a.
Não podia terminar daquele jeito. Ele invadira sua vida, embaralhara seus sentimentos e partira.
Arrancou o lençol da cama, jogando-o no chão.
- Por quê?! Por quê!? - soluçando novamente, sentou no chão à beira da cama.
Sentia-se péssima, perdida...
Levantou-se e caminhou até a varanda.
Sem ele, não viveria mais nenhum dia, ela murmurou enquanto atirava-se dali.