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Contos-->Esquentou o tempo na sauna -- 30/12/2003 - 23:37 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esquentou o tempo na sauna
Athos Ronaldo Miralha da Cunha


A festa de confraternização de fim de ano tinha tudo para ser inesquecível. E foi.
Apenas os saunistas fariam parte da comemoração. O cardápio: uma desejável e apetitosa ceia de Natal.
Um dos freqüentadores doou dez perus e outro, duas caixas de cerveja. Estava feita a festa.
Na noite de 18 de dezembro na sociedade 3 de Outubro Tênis e Remo, muitos sorrisos e tintins de cálices e copos. A cerveja rodava solta e, perfeitamente gelada, ornamentava os cristais nas mãos dos bebuns.

No salão ao lado, um outro encontro para celebrar o fim de ano dos tradicionalistas. Peões, prendas e patrões de CTGs. A alma campeira também celebrava os festejos de dezembro.
Moçoilas faceiras e prendadas. Gaúchos de bombacha e barbicacho. No centro do salão, tinidos de adagas e esporas. Na churrasqueira fumegava a picanha e a costela num incandescente braseiro.

Entretanto, quero ater-me ao recinto festivo dos saunistas, sem o rito tradicional dos Centros de Tradições. O ambiente seria uma simples comemoração com desejos mútuos de felicidades no ano novo, se o Chicão não chegasse acompanhado com quatro “primas”.
Quatro formosuras de cair o queixo e parar o trânsito. De deixar o mais insosso dos mortais com olhos saltitantes e babando uma saliva sádica.
Foi um alvoroço entre os convivas. Olhares gananciosos, sobrancelhas salientes e sorrisos matreiros.
- Vai ter sorteio! - gritou um gaiato.
- Opa, esta é uma sociedade familiar. – comentou alguém menos afoito.
- Iiiiiiiiiiiiiiaaaahhuhuhuhu!! – gritou um saunistas metido a guasca, esfregando as mãos com uma satisfação exacerbada.

Uma morena fogosa e três estonteantes loiras embelezavam a mesa do Chicão. Sorridentes, perfumadas e belas. Os olhares traiçoeiros se cruzavam num vaivém desmedido. Chicão era a simpatia em pessoa. Largos sorrisos, gestos lentos e gentilezas vãs. Estava empolgado, garboso e faceiro. O dono do pedaço... e das gurias.

O Pedro Espanhol, da Diretoria do Clube, achou um absurdo.
- Uma sociedade de respeito não pode permitir uma afronta dessas, eu exijo a retirada imediata dessas gurias do recinto. – esbravejava na porta do salão. O Espanhol dava pulos de raiva e escabelava os próprios cabelos.
O Saldanha, um aposentado fanfarrão, disse que a sociedade merecia mais consideração e se propôs conduzir as gurias para fora dos domínios do Clube.
- Deixa que eu tomo conta delas. – completou sorrindo.
O Garcia, um comerciante de bugigangas, quase mal-educado, afirmou categoricamente que a culpa era do porteiro.
- Ele deveria ter pedido a identificação das moças. O porteiro deixou as minas entrarem. E vamos com calma que eu estou apaixonado pela morena.
- Era só o que faltava... a culpa agora é do porteiro. – retrucou o único e solitário petista da festa em defesa do humilde trabalhador.

Nesse instante uma senhora da mais alta estirpe tradicionalista gaúcha trancou a porta do salão de festas.
- Isso é uma pouca vergonha. – batendo a porta na cara de um incrédulo saunista.
- Ora, vá se queixar ao bispo... – retrucou o incrédulo saunista.

Depois do tumulto da chegada triunfal das amigas, ou primas, do Chicão elas foram gentilmente convidadas a se retirarem. O Clube 3 de Outubro Tênis e Remo não permitiria a presença das beldades ali no salão de festas.
E saíram fogosas, audaciosas e rebolando diante dos olhares de admiração dos incautos, sonhadores e babando fios de ovos. A noitada de um ansioso dezembro estava desfeita.

- Mais um minuto e vou embora apaixonado. – sussurrou desolado o Garcia.
- Isso vai dar rolo e suspensão.
- Mas as primas eram rechonchudas... graciosamente volumosas. Eram monumentos ao prazer. Eram quatro obras-primas dignas de um Picasso. O Pablo, é claro.

Bem, a festa continuou sem as gurias e o Chicão.
Os remanescentes beberam cervejas e estouraram champanhas na companhia das estrelas num céu escuro. E cada galanteador foi pra sua casa dormir o sono dos justos.

No outro dia, no cair da tarde, estavam uns festeiros suando na sauna seca. Destilando a cerveja da noite anterior.
Nesse momento o Garcia provoca dizendo que nos bailes do clube qualquer mulher entra, é só pagar. Isso aqui está cheio de percantas e baixaria. – completou.
- Tu ta falando isso pra mim. – retorquiu o Saldanha.
- Se te serviu o chapéu, estou. – prontamente respondeu Garcia.

De pronto Garcia avançou em direção ao colega de sauna empurrando-o contra a parede. Saldanha devolve com um soco direto no nariz de Garcia. Este, desequilibrado, senta no colo de Papada.
Papada é um senhor bonachão e sem maldade. Para ele tudo está bem.
- Opa, que isso aqui ta fervendo. E vamos manter uma distancia regulamentar pessoal. O espaço é pequeno e tem muito pelado. – Papada, comentou sorrindo.
Novamente os dois valentões levantaram e se atracaram dentro da sala da sauna. Fechou o tempo no ambiente.
Ronaldão se meteu no meio da briga e levou um cruzado no maxilar.
- Pessssoal, vamossss parar com isssso. Doissss amigossss brigando! – e saiu com a mão na boca, assobiando quando falava palavras com “s”.
- Eu não aparto briga de homem pelado! – sentenciou um pelado no meio da sala quente.
- Já te pego pilantra. – vociferava Garcia lavando o rosto na pia.
- Isso aqui é um estágio para o inferno.
E se atracaram novamente. Novamente o Garcia cai em cima do motor com a sopa de pedras que esquenta a sauna. E sai gritando porta afora com a toalha fumegando na bunda.
- Eu não aparto briga de homem pelado! – insistia um perseverante no interior do recinto da sauna.
- Essa confusão só pode ser coisa do PT. – retrucou um trabalhista que odiava o partido do presidente.
- Bah! A dialética do absurdo... ou seria o absurdo dialético? – simplesmente respondeu o petista solitário.
- E eu vou sair daqui porque não posso ver sangue.
- Mas tchê, tu é médico.
- Ah! É... Mas estou aposentado.
- Num bochincho certa feita, fui chegando de curioso. – começou a declamar um gauchito do outro lado da sala de descanso.

Sentados, lado-a-lado, dois viventes pouco se importaram com a confusão na sauna seca. Como se nada houvesse, discutiam, acaloradamente, a votação da PEC paralela da Previdência.

Enquanto isso Garcia era carregado, todo ensangüentado e com a bunda vermelha, para fora da sauna para ser atendido com os primeiros socorros.
E, aparentemente, o clima no ambiente voltou ao normal. Aparentemente.

Garcia ainda estava sendo carregado quando um sujeito estranho ao ambiente da sauna entra no vestiário. Calmamente e em silêncio, dirigiu-se a sauna seca. Usava apenas uma bombacha preta e chinelos de dedos, possuía um bigode de causar inveja a Olívio Dutra.
Os presentes no recinto se entreolharam. Achando meio esquisito a presença e a indumentária do saunista gaudério. E o bombachudo não se fez de rogado.
- Onde estão as gurias? – pergunta, ajeitando o bigode, para espanto dos presentes.




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