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Contos-->O 163 -- 09/01/2004 - 13:35 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu estava, naquela tarde chuvosa, do princípio de janeiro, ali na praça central de Tupinambica das Linhas. Parara, sob a marquise do Banco do Brasil, e lá ficaria até que o aguaceiro amainasse.
A chuva tinha aquele atributo de aglomerar pessoas, surpreendidas pelo inesperado que desabava. Quando cheguei ali estava aquela figura que não me era estranha. Tinha os cabelos brancos, macérrima e o encarquilhado da face denotava vetustêz. Ele me olhou e, sua expressão fisionômica indicava que também se lembrava de mim. Quando as conexões neurônicas se completaram, abriu um sorriso largo. A observação das baixas havidas no grupamento frontal daquele pelotão heróico de 32 trituradores bucais, não impediu o abraço fraterno e a expansão da alegria irradiante dos adolescentes que emergiam em nós naquele momento.
Ele era o Geraldo, companheiro do Tiro de Guerra, e dos tempos em que o Chacrinha era ainda novato na tevê. Era o famoso 163 que arreliava os miolos do sargento trocando as fichas e papéis, da burocrática organização, quando mais deles se precisava e a urgência urgentíssima clamava por celeridade.
Ele falava-me que acabara de chegar do médico com o qual fizera uma consulta sobre a dor que sofria no ventre. O doutor dissera-lhe que aquilo era manifestação das giárdias. E que ele demorara muito pra cuidar do problema. Sabe Zocca, ele disse-me, eu demorei tanto pra acabar com as bichas que elas até se organizaram em categorias, classes sociais e governo central. Agora vai ser foda desalojar essa negadinha. Diz que até movimento dos sem intestino elas têm.
Geraldo contou-me que morava num bairro distante de Tupinambica das Linhas e que o local era tão bucólico que os vizinhos conversavam uns com os outros sem nem ao menos saírem das suas casas. Não era necessário o contato visual para que os conhecidos trocassem palavras. Lembrei-me dos tempos em que advogava e visitava as prisões. Os nela mantidos confabulavam estando em celas distantes sem a presença corpórea, face a face. Esse tipo de interação era próprio de quem não tinha liberdade ou que se entregava à lei do mínimo esforço.
Pro Geraldo, meu amigão, estar por cima da carne seca, não era fazer sexo com magricela.
Ele contou-me que o Roberto, que fora cabo em nossa turma, andava agora com auxílio duma bengala. Mas que eu não me preocupasse: o bastão era, na verdade, um tremendo pé de cabra disfarçado.
Geraldo contou-me que Roberto formara-se em odontologia e que como dentista era um meliante. Uma das suas práticas preferidas e usuais era a de, quando recebia adolescentes pra tratamento de canal, introduzir impiedosamente broncas furiosas e zunideiras nos nervos expostos, depois que, com conversas moles, suscitava a libido da molecada, contando casos eróticos dos quais supostamente participava. Ele justificava as malvadezas alegando que não gostava da gentalha que se considerava a tal sem nem ao menos mostrar qualidades pra isso.
A conversa estava ficando mesmo muito boa, quando de inopino chegou aquele bêbado dos infernos, infeliz por natureza, que tinha por escopo máximo estragar os bons momentos dos viventes menos loucos.
O paulificante bramava que seu dinheiro não vinha e que demorava, apesar do longo tempo já transcorrido depois que mandara um conhecido seu ingressar com o pedido de aposentadoria por invalidez lá no INSS.
O pingueiro era bem conhecido no trecho por sua bizarria e condição de usuário contumaz das dependências e serviços dos manicômios onde buscava a destoxificação.
Não me restou outra alternativa do que a de despedir-me do Geraldo que há 35 anos não via.




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