A cento e nove quilômetros
Da capital João Pessoa
Está Alagoa Grande
Cidade pacata e boa
Mas ultimamente um fato
Causou grande espalhafato
A essa dita Alagoa.
A dezessete de junho
Do ano dois mil e quatro
Alagoa Grande teve
Um dia funesto e atro;
Entre água, lixo e lama,
Foi personagem de um drama,
Sem cinema e sem teatro.
A Barragem Camará
Há mais de um ano feita,
Retinha as águas de um rio
Na bocaina mais estreita,
Cuja grande construção
Deixava a população
Altamente satisfeita
Mas o inverno caía
Com certa excessividade,
A barragem tomou água
Com muita velocidade
Chegando a seu enchimento
A uns oitenta por cento
Da sua capacidade.
E às nove horas da noite
Daquele dia aziago,
A barragem se partiu
E despejou seu grande lago
Nem com cálculo filosófico,
Desse fato catastrófico,
Não há quem meça o estrago.
Desceu arrastando tudo
Que havia pela frente:
Engenho, curral de gado,
Ponte, casa, carro, e gente,
Jumento, cavalo ou boi,
Se estava na frente, foi
Lambido pela enchente.
E quando Alagoa Grande
Dormia em paz e tranqüila
A água invadiu as ruas,
Praça, prédio, beco e vila;
Sem haver qualquer alerta,
Foi a cidade coberta
De água, lixo e argila.
Parece até que estou vendo
Aquela grande aflição.
Homem, mulher e menino,
Mesa, sofá e colchão,
Na correnteza tangidos
Como náufragos perdidos
Implorando salvação.
A tromba d´água batia
Como uma onda encrespada
As casas se desmanchando,
Gente morrendo afogada;
Alguns salvando mobília,
E um pai atrás da família,
Que havia sido arrastada
Foram-se vidas humanas
Plantios e animais
Maquinários, documentos,
E lojas comerciais.
E fica na nossa memória,
Uma sombra na história
Pra não sair nunca mais.
O povo coloca a culpa
No nosso Governador.
Esse culpa a construtora
E o Governo anterior.
Enquanto a razão não desponta,
Sofre o povo com a conta,
O prejuízo e a dor.