Agora quero mostrar
nas minhas rimas sem tom,
o que ninguém quis falar.
Falarei em alto som!
Preciso então me inspirar,
do alto buscar o dom.
Bem: se eu já fiz a promessa
é certo que vou cumprir,
senão a graça me cessa
e vergonha vou sentir.
Eu preciso sair dessa
sem ninguém me repelir.
Como disse no começo
há um fato por narrar
e disto jamais esqueço.
Um abraço vou mandar,
com todo ardor, todo apreço,
e de IPUPIARA falar.
Daqui pra frente, senhores,
nesse Universo de Deus,
todos serão sabedores
da terra dos avós meus,
ouvirão dos esplendores,
dos coqueiros que são meus.
É no Sertão da Bahia
que vive o ipupiarense,
enfrentando o dia-a-dia
buscando algo que o compense,
mesmo com chuva tardia
sua fibra ninguém vence!
Falta muito na cidade,
por vezes abandonada...
O progresso, na verdade,
é tartaruga atrasada.
Triste e dura realidade
e ninguém quer fazer nada.
Ganhamos, sim, energia,
um projeto do mais alto
que olhando para a Bahia
achou-nos em sobressalto.
Telefone, que alegria!
Também nos chegou o asfalto.*
Hoje quero aqui pedir
a quem o poder exerce,
que não deixe sucumbir
essa gente que padece,
por favor, queiram ouvir
meu pedido, minha prece.
Ipupiara é tão querida,
cada amigo é um irmão,
inspira amor e guarida
muita paz no coração
e o seu povo nesta vida
sabe estimar o seu chão.
Já falei sério e brinquei,
mas sempre sou moderado,
pois nunca me esquecerei
do nosso prefeito Osvaldo.**
Homem de valor, bem sei,
trabalhou como alugado.
Lembrando dos tempos idos
quando lá era Fundão,
amigos – já falecidos –
lutaram por ser Jordão
e permanecendo unidos
coroaram a intenção.
Muita gente conta a história
de um Isidoro Ribeiro,
meu bisavô – isto é glória!
que sempre foi o primeiro
a lutar pela vitória
do seu torrão altaneiro.
Nada intimidava os bravos,
sempre a luta era renhida,
lutando tal qual escravos
com bravura destemida...
Fossem pregados com cravos
a dor não era sentida.
O nome era até bonito
mas resolveram mudar.
Nessa época, o Isidoro dito
já estava a descansar
e um outro vulto bendito
quis essa luta abraçar.
Para que tenham ciência
quando surgiu Ipupiara,
foi com fé e paciência,
a vitória custou cara,
pois Brotas, sem consciência,
liberdade lhe negara.
Quando a nove, mês de agosto,
o sol mais forte brilhou
e Artur Ribeiro, com gosto,
a emancipação bradou,
um sorriso em cada rosto
logo, logo se estampou.
Realmente, brasileiros,
cada terra e sua história
mostra os homens verdadeiros,
não a aparência ilusória!
Que os exemplos, companheiros,
sejam sempre nossa glória.
Se já sabemos agora
do presente e do passado
desta terra que ainda implora
um pouco mais de cuidado,
creio ser chegada a hora
de lutarmos lado a lado.
Toda luta é conseguida
com muito esforço e união,
a nossa terra querida
merece nossa atenção,
lutar por sua guarida
é dever do cidadão.
Uma vez que os conclamei
a um grande esforço e união,
há muita coisa que sei
precisar de um empurrão:
unir o progresso à LEI,
ORDEM, JUSTIÇA E RAZÃO.
Vamos, nossa Ipupiara,
pois tu também és Brasil!
Mostra essa pujança rara
nesse Sertão varonil,
e essa gente que te encara
renderá louvores mil.
Xeque-mate! Não tem jeito.
Posso sorrir e cantar!
O coração satisfeito,
não pára de palpitar.
A Deus eu rendo meu preito
por Ele aqui me ajudar.
Zelarei desse meu dom
e de Ipupiara também!
Não sou ruim e nem bom,
isto não nego a ninguém;
só consigo escrever com
vontade de ver o bem.
(Do livro CENTELHAS DO ALÉM-JERRY FILHO/JAN. 2000)
• - Não sei em que ano o poeta escreveu o poema, mas sei que hoje (abril/maio/2009) não existe mais asfalto. Não houve manutenção e a estrada voltou à condição original, só barro e buraco. O penúltimo governador da Bahia, Paulo Souto, (2003/2007) prometeu que a estrada ficaria pronta até dezembro, mas se esqueceu de mencionar em que ano. Perdeu as eleições e assumiu o governo Jaques Wagner, mas a estrada continua a mesma: uma calamidade.
** Osvaldo Leite da Silva foi prefeito de 1971 a 1972, 1977 a 1982 e 1993 a 1996. Ipupiara faz fronteira ao norte com Gentio do Ouro, ao leste, com Barra do Mendes e ao oeste e sul, com Brotas de Macaúbas.