Minha custódia celeste
quer meu recadastramento,
mesmo que eu não mais preste,
pra me dar seu valimento.
Meu anjente quer saber
onde moro, quanto ganho,
se retrato eu vou ter,
se do terço ind´apanho.
Quer firma reconhecida
por cartório lá do céu,
certidão bem fornecida
do arcanjo Uriel.
O meu anjo é de guarda,
de Custódio eu lhe chamo,
usa bata, não tem farda,
é a ele que reclamo.
Meu anjente de ação
é que me dá cobertura,
nel´invisto, com razão,
nas horas de apertura.
Pra viver nest´apressal,
tem que saber investir,
anjente celestial
faz minha graça subir.
Quando vem um temporal,
o Custódio me atende,
apagão não é tão mal,
uma vela se acende.
Quando joga o Cruzeiro,
fico fraco só de ver;
meu anjente, conselheiro,
me ajuda a torcer.
Meu Cruzeir´é de primeira,
nada tem com o Real,
não recebe benzedeira,
tem meu anjo natural.
Quand´é time de segunda,
meu Custódio não me leva;
quanto mais ele afunda,
meu Cruzeiro se eleva.
Quando sai meu pagamento,
vou ipê-tê-u pagar,
peço-lhe que nenhum vento
venha meu lar derrubar.