Numa bela manhã de primavera ele nascia
acordando cedo Resende Costa, uma cidade
sob uma laje granítica que há muito luzia
pelas tradições inconfidentes de liberdade
e, pelos teares que belos tapetes artesanais
reproduziam o charme de tempos coloniais,
era ele o chamego de sua tenra mineiridade.
E na primavera de 1934 subiram os rojões:
Maria Luiza e Ademar Ferreira festejaram
o nascimento de mais um dos seus varões,
mais uma das crianças a que se apegaram.
Festejaram com bolo, queijo e guloseimas
e a alegria que em nascimentos é a mesma
quando muito se desejaram e sonharam.
Ainda garoto, na fábrica de tecidos trabalhou
na vila de Matosinhos, em São João Del Rei,
foi quando pegou o gosto e não mais largou.
O gosto do forjado no aço de gostar da lida
que nas noites, no cinema, era pipoqueiro
que precisava, agora, juntar mais dinheiro,
já que queria vir ao Rio emelhorar de vida.
Quando chegou aos quatorze anos de idade,
trazia na mala muita garra, amor e alegria
para vencer seus desafios na grande cidade.
Trazia nos sonhos uma orgulhosa galhardia,
do que chegaria sempre onde bem quisesse
não importando o obstáculo que houvesse,
que atravessaria com garbo e galhardia.
Aos 22 anos já era bom mecânico de tratores
em Duque de Caxias, a cidade que foi adotar
onde passou a viver os seus suores e amores.
No bairro da 25 de Agosto começa a trabalhar
em uma Mecânica de Equipamentos Pesados
que na Rua Marechal Floriano havia fincado
até um dia por direito trabalhista se aposentar.
Montava e desmontava com maestria e arte
aquelas máquinas de aço e ferro, pesadas,
chamadas de tratores, outras de guindastes,
pois, era muito bom quando empenhado,
nas coisas do seu ofício ao abrigo do galpão
que a solda e o maçarico provocava clarão.
Era um pequeno notável, muito respeitado.
Em 1959, Marlene Meira Neves, conheceu
namorou e casou-se em abençoada união
pelo Bom e Generoso Senhor Nosso Deus
que pelo seu casamento e sua consagração
lhes presenteou com duas filhas, meninas
que bem, por troca lhe deram mais estima
como os netos e bisnetos e pura satisfação.
No bairro Beira-Mar, sua casa construíra
tijolo por tijolo demonstrando a exatidão
nessa construção pois que talento possuía
desde que necessário fosse o uso das mãos.
Logo ele que pela família bem estruturada
faria castelos, pontes, avenidas e estradas
e que a toda família levaria ao seu coração.
Aposentado nos anos 80 mudou a direção
retornando à cidade natal para o passear,
e as lembranças que afloravam da emoção
dos tempos das pernas sempre a arranhar,
nas correrias de criança em suas algazarras
pelas ladeiras com outros colegas, as farras
que mesmo depois de anos é bom lembrar.
Ao partir, atendendo ao pedido do Senhor,
Marlene o deixa aos cuidados atenciosos
de suas filhas, doces frutos de seu amor,
de tempos que foram felizes e amorosos.
Possibilidades almejadas em nossas vidas
que por outras obrigações são esquecidas
mas que nesses tempos foram renascidas.
Pois eram nos primeiros pingos de chuva
ou nas primeira luzes de manhã radiosa.
Ou eram ferramentas retas ou de curvas
serrilhadas, pontudas ou mesmo a grosa.
Lá estava, na bancada, começando o dia
orgulhoso do que fizera e do que fazia;
vaidoso por ser habilidoso sem ser prosa.
Mineiro, já lhe dava uma certa galhardia:
paciente, desconfiava da lógica científica;
tinha que fazer para ver o quanto valeria.
Se era matemática, pura sorte ou bruxaria
a cor e o matiz que no amor davam o tom.
O certo mesmo é que era mineiro do bom
dos que não ficando certo ele logo repetia.
Ele era um daqueles gigantes bem miúdos
que levantavam o mundo torcendo o aço
nas parábolas que mentes com conteúdos
são capazes com a força dos seus abraços
cândidos, pungentes que forjados no calor
do caráter de um homem que tinha o valor
de uma vida que não lhe permitia cansaços.
Passando a vida com grandes estruturas
que suas roldanas levantavam pelos ares
no ferro e aço como imensas esculturas
que na mecânica pesada são como pares.
É o mundo sendo rodado pela alavanca
é a força do pequeno atlas que o levanta
com a geometria traçada pelo guindaste.
Aposentado, viúvo, se torna um artesão
das reminiscências tenras de sua infância
ao construir de compensado o caminhão
que trafegava pelas fazendas e estâncias;
o Trem que pelas Gerais atendeu cidades
levando e trazendo as suas necessidades
seus desejos, querências e as relevâncias.
Os oratórios, aviões, baús e os guindastes
ousavam na plasticidade que nosso artesão
tirava da pet e da madeira fazendo as artes
que em solo urbano parecia nascer do chão.
Era Gepeto dando uma vida nova à madeira
enquanto era criança em sua fase derradeira
enquanto em sonhos corria de pés no chão.
No ano 2009, ele deixa a sua bancada vazia
e as ferramenta arrumadas em cada posição.
Havia muita luz, mas nenhuma sombra fazia
que evocasse tristeza ou até mesmo solidão.
Geraldo Resende partiu deixando saudade
na familia, nos amigos, nessa nossa cidade
onde fez sua bela familia e amou de paixão.