Rio de Abril, tu és!
És mais que um momento em desabrigo pela calamidade. És mais que uma casa atingida pela tempestade. És mais que uma vítima da urbanidade além do papel. És mais que uma realidade inundada por chuva cruel. És mais que uma lagoa transbordante. És mais que um tormento em instante de solidariedade. És mais que uma enxurrada em encosta e ladeira. És mais do que uma cidade brasileira. És mais do que uma página virada pela climatologia. És mais do que uma poesia escrita em drama. És mais do que uma força incontida em lama. És mais do que uma beleza natural ameaçada. És mais do que uma vida soterrada. És mais do que um vendaval continuado em perigo constante. És mais do que o dever de um governante estadual. És mais do que um grito irmanado por socorro emergencial. És mais do que um morro desfigurado na paisagem tropical. És mais do que uma notícia retocada além da imagem real.
És além do Corcovado um altar elevado. És além do consagrado Cristo Redentor. És além de um verbo conjugado pela dor. És além de um predicado nominal. És além de um sujeito indeterminado pela fatalidade ambiental. És além de uma concordância em frase e oração. És além de uma enseada no arrolo da ternura de coração em coração. És além do Estádio Maracanã alagado. És além do Sumaré castigado. És além de um Cabo Frio. És além do Dedo de Deus. És além da Serra Carioca. És além do Pico do Desengano. És além do Cabo de São Tomé. És além de Aperibé. És além de um dilúvio sem Noé. És além da Laje do Muiraé. És além de Macuco e Macaé. És além de Mangaratiba e Magé. És além da Tijuca e do Grajaú. És além da Mantiqueira e de Nova Iguaçu. És além de Nova Friburgo e da Gávea. És além de Rio Claro e Rio Bonito. És além de Paraty e Paty do Alferes. És além de Areal, Búzios e Angra dos Reis.
És além de Marambaia e Andaraí. És além de Araruama e Piraí. És além do Carmo e Cambuci. És além do Cantagalo e Cordeiro. És além Itatiaia e Japeri. És além de Nilópolis e Niterói. És além de Miracema e Natividade. És além de Sapucaia e Saquarema. És além de Valença e Três Rios. És além de Volta Redonda e Vassouras. És além de Teresópolis e Tanguá. És além de Petrópolis e São Pedro da Aldeia. És além de São João da Barra e São João de Mereti. És além de Sumidouro e Varre-Sai. És além de São Pedro da Aldeia e São Sebastião do Alto. És além de São Francisco de Itabapoana e São Gonçalo. És além de Santo Antônio de Pádua e Santa Maria Madalena. És além de Silva Jardim e São Fidélis. És além do Rio das Flores e Rio das Ostras. És além de Natividade e Miguel Pereira. És além de Cardoso Moreira. És além de Barra Mansa e Belford Roxo. És além de Porto Real e Pinheiral. És além de Resende e Trajano de Morais. És além de Mendes e Mesquita. És além de maravilhosa a mais bonita. És além de uma oração bendita. Rogai pelo Rio de Abril. Amém!
Airton Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreisjr@gmail.com