“Ai que saudades que eu tenho
Daquela tardes faceiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais”*
Era assim minha infância
Naquela casa amarela
Quintal enorme e pomar
Laranja doce no pé
Nada era assustador
Na casa do interior
E tinha o fogão a lenha
Da comida sempre boa
Preparada com tempero
Inventado pela avó
Aquela receita antiga
Secreta qual ouro em pó
Que passa de mãe prá filha
Guardada a sete chaves
E feita com muito amor
Na casa do interior!
Tinha um gato na janela
Tinha guirlanda de flor
Ah que saudades eu tenho
Do clima de tanto amor!
Era a meninada toda
Debaixo do cobertor!
A chuva caindo fina
Risada rolando solta
Café quente de coador
Na casa do interior
No quarto, quanto brinquedo!
Colchas sempre coloridas
À noite quantas estórias
Atiçavam nossa mente
Era o saci pererê
Era cobra, boitatá
Era o fantasma da estrada
Enchendo-nos de terror
Mas tudo se dissipava
Na casa do interior!
Ainda tinha o riacho
Que a mim parecia largo
Só hoje que percebi
Que na verdade cresci!
Minha saudade insiste
Mas a alegria resiste
Aos mais densos temporais
Fui feliz quando criança
E ainda resta a esperança
De voltar pro interior!