Era uma vez uma coruja
Com seu vestido rendado
Que recebeu de lambuja
Do pároco do povoado
O solidéu de uma freira
Bem coberto de poeira
E também bastante usado.
O inverno era inclemente
A neve era impiedosa
E a Coruja tremente
Não se fez de orgulhosa
Vestiu o tal solidéu
Só lhe faltou ir ao céu
Virou a irmã Dadivosa.
Depois foi ao refeitório
No convento da irmandade
Sentou perto do oratório
Na maior felicidade
Foi então que irmã Rosa
Com sua fala fanhosa
Surpreendeu-a de verdade.
“Irmã coruja querida,
Benvinda ao nosso convento
Junto a sóror Margarida,
Convido-a para o advento.
Lá fora a vida é fria
Aqui temos alegria
Fique aqui por mais um tempo.”
Nossa coruja surpresa
Sábia ouviu o convite,
Na cabeceira da mesa
Comendo com apetite.
Falou então dom Manoel
Que lhe deu o solidéu,
Sobre a ordem e seus limites.
Dadivosa então ficou
Não era mais pecadora
Com o tempo se destacou
Virou madre superiora.
Não come mais rato morto
Vive no maior conforto
É a melhor professora.
Conto em versos da série: "Bicho que parece gente".