Dizem que Matusalém
em uma pedra morava
que se mudava de lado
quando a coisa esquentava
que no inverno se via
c’um frio de noite a dia
e todo ano gripava.
Foi ele quem inventou
de um pé de vick fez chá
e descobriu que o nariz
também podia assoar
e que daí foi um salto
poder fazer baixo ou alto
o ato de se peidar.
Foi um grande cientista
da natureza então
pois não havia escola
para sua formação
e o diploma era o grito
com sua boca de apito
se levantou de seu chão.
Descobriu a batata
a mandioca, o aipim
um dia comeu a carne
do irreverente saguim
e tudo q’ele comia
em tudo satisfazia
não achava nada ruim.
Por isso Matusalém
viveu mais de centena
se esqueceu de morrer
pois desligou sua antena
de tanto que procurava
de tanto que encontrava
comprida ficou a cena.
Matusalém ganhou fama
num morro de Timbaúba
quando venceu um concurso
no meio de uma turma
que precisava urgente
um artista inteligente
para ser o Boi da Fuba.
Faltava somente um mês
para mais um carnaval
e quem corria no Boi
era o nego Sandoval
que em cima de seu dorso
o Boi ficava um colosso
era assim fenomenal.
Rodopiava na rua
no meio de seus toureiros
chifrando o encarnado
do que via por primeiro
de manhã em Timbaúba
à tarde partia a turba
pra brincar em Ferreiros.
Mas o nego Sandoval
num triste dia sem sorte
de nosso mundo partia
abraçado pela morte
deixou nosso Boi da Fuba
e o povo de Timbaúba
jogado à própria sorte.
Foi quando Matusalém
entrou na competição
se precisava repor
quem fizesse o Boi de então
a voltar pro carnaval
dando vida ao animal
e alegria ao folião.
Vindo até do litoral
apareceu concorrente
porem foi Matusalém
que foi primeiro de frente
entrou debaixo do Boi
arregaçou e se foi
no meio de muita gente.
Aconteceu uma coisa
que não se acreditava
pois nosso Matusalém
aquela tarde enfeitava
o Boi foi revivido
no meio do alarido
parecia que voava.
Saiu da rua que estava
passou pra rua de trás
corria Matusalém
parecia satanás
ninguém ficava na frente
ali ficava patente
ninguém concorria mais.
Nunca se tinha visto
nas bandas de Timbaúba
um Boi melhor que aquele
que um dia se chamou Fuba
agora que melhorou
vai virar Boi Voador
e que ninguém mais cutuca.
Pediram pro Boi parar
pois já era vencedor
mas nosso Matusalém
por certo não escutou
pois em cima d’uma casa
ainda rodopiava
não se gastava o vigor.
Subiu num poste de luz
caiu de fucim no chão
hora dançava com os pés
noutra hora com as mãos
as costelas do Boi Fuba
feitas de pau munguba
já parecia mamão.
O povo gritava, pára !!!
num precisa se amostrar
você já é vencedor
o melhor Boi do lugar
se sente nessa cadeira
gostamos da brincadeira
agora vem descansar !!!
Matusalém parecia
ter virado Boi de vez
continuava pulando
o que ninguém nunca fez
o povo não agüentava
pararam ele na marra
e tudo ali se desfez.
Tiraram o Boi de cima
das costas do novo herói
e no coração de todos
começou um tal rói rói
Matusalém parecia
em ter virado uma gia
lembrança que ainda dói.
Ninguém via seus olhos
nem boca nem seu nariz
não era aquilo que o povo
em seu desejo mais quis
Matusalém deformado
com seu rosto todo inchado
ficou mais feio o infeliz.
E foi ai descoberto
o tudo que se passou
o afamado Boi Fuba
que virou Boi Voador
descansou por um ano
no teto de um mocambo
e que ninguém o limpou.
O que fez Matusalém
ser vencedor nesse dia
foi uma coisa pequena
que nem foi quente nem fria
quase nem peso tem
mas que avoa também
e faz gente virar gia.
Dentro lá do Boi Fuba
escondido no mocambo
um bicho fez sua casa
descansando por um ano
Matusalém sem igual
ganhava no carnaval
perdia pro marimbondo.
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LITERATURA DE CORDEL
Por Marco di Aurélio
João Pessoa – Paraíba – Brasil
Agosto de 2001.
