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Cordel-->UMA BOTIJA PERDIDA -- 20/01/2002 - 12:35 (Marcodiaurélio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UMA BOTIJA PERDIDA

Ferro-Velho era seu nome
de seu comércio vivia
tinha sangue de mascate
toda terra conhecia
era chegado a dinheiro
também era bom ferreiro
algumas coisas fundia.

Na feira de Timbaúba
seu produto mostrava
enxadas e dobradiças
e foice bem desenhava
ponteiro e talhadeira
tudo lhe foi brincadeira
na arte que dominava.

Seu banco era olhado
pelo matuto que vinha
lá com sua precisão
da falta que a terra tinha
pagava como podia
devendo por garantia
a sua própria farinha.

Fazia também ferrolho
pé-de-cabra e peixeira
e ali era vendido
material de primeira
pois o ferro era seu fino
e nele se tinha o tino
fosse ali forja grosseira.

Mas a estória começa
em sua outra paixão
pendurada ao pescoço
por um bonito cordão
em uma peça tão boa
coberta pela coroa
cunhada num medalhão.

Era uma moeda antiga
daquela do Imperador
e que jamais era vista
na mão de um lavrador
somente agora furada
para ser bem pendurada
figurando outro valor.

A paixão de Ferro-Velho
e que seu olho brilhava
era de ver as moedas
que sua bolsa juntava
pra muitos já foi o mal
pra ele era metal
que o tempo não gastava.

O seu banco visitei
com colecionador
em busca d’umas moedas
algumas de bom valor
de tudo que ele tinha
a coleção que era minha
de raridade aumentou.

Um belo dia porem
bem diferente ficou
d’uma viagem que fez
pras terras de um doutor
guardava lá um mistério
com cara de cemitério
abriu a boca e contou.

Um ano se completava
de um sonho repetido
só bastava se deitar
pro sono não ser dormido
pois uma alma lhe vinha
com a mesma ladainha
repetindo seu pedido.

Que estava aperreada
que ainda não tinha paz
que agora onde vivia
estava sendo incapaz
de alcançar o seu louro
por enterrar um tesouro
quando ainda era rapaz.

Estava dando a missão
por ser ele corajoso
e do terço sabedor
por ser bem religioso
levasse pá e uma bota
pois perto de uma grota
o serviço era assombroso.

Encheu-se de muita fé
para a botija arrancar
se fez nas terras passante
pro doutor lhe convidar
se chegando sem alarde
nas horas de fim de tarde
era certo se hospedar.

A alma que padecia
no sonho que ele sonhava
mostrava aquelas terras
onde o tesouro enterrara
que numa noite de lua
toda fortuna sua
por ganância ali deixara.

O dono daquelas terras
lhe deu guarida e jantar
ofereceu-lhe dormida
em um dos quartos do lar
mas com muita educação
pediu lugar no galpão
pra poder se libertar.

Uma botija patente
de uma alma penada
se arranca de meia-noite
nem antes, nem madrugada
não se leva companhia
o segredo é garantia
a ninguém se conta nada.

Se o rito for quebrado
e o segredo for rompido
o tesouro vira cinza
o valor se faz perdido
pode até ser castigado
a quem foi bucho-furado
nunca mais sendo escolhido.

Ferro-Velho aboletou-se
numa rede oferecida
no galpão daquele engenho
para noite ser dormida
desta vez uma visão
uma nova assombração
veio em hora descabida.

Quando deitado estava
como se fosse um mendigo
entrou numa maciez
um velhote carcomido
com a roupa toda rota
sentiu um frio da gota
do pé do bucho ao umbigo.

O velho silencioso
parecia até São Pedro
tinha o rosto barbudo
mas fazia muito medo
Ferro-Velho aquietou-se
simplesmente lembrou-se
culpado de chegar cedo.

O velho armou a rede
numa altura danada
em cima de Ferro-Velho
a rede foi balançada
a alma olhou pra baixo
de trapo era de cacho
que Ferro perdeu a fala.


Continuou balançando
a alma mais nova então
no peito de meu amigo
não batia o coração
foi quando a alma arretou-se
e lá de cima falou-se
numa voz de rouquidão.

“ Oi que eu vou cair ”
aquela voz pavorosa
da rede que estava em cima
já não querendo mais prosa
Ferro-Velho ali vendo
a mulambeira descendo
contigo não tem quem possa !!!

Atrás de Ferro no quarto
a alma lhe perseguia
uma corrida comprida
que lhe durou meio-dia
até que amanhecendo
e Ferro-Velho entendendo
que a aurora rompia.

Nunca mais meu amigo
disse em poder sonhar
com a botija perdida
de não poder arrancar
pois o pedido ali feito
irá pra outro sujeito
que assim possa sonhar.

Essa botija por certo
no mapa deste sonhar
que Ferro-Velho sabia
a marca de seu lugar
mudou-se pra outro canto
só continua o pranto
da alma com seu penar.

Quem sabe você sabendo
depois de me vê contar
que não é assombração
com uma botija sonhar
só não desejo a sina
uma outra alma em cima
lhe fazendo arrepiar.

_________________________
LITERATURA DE CORDEL
Por Marco di Aurélio
João Pessoa – Paraíba – Brasil
Junho de 2001
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