Trabalhei numa cidade
numa instituição
onde uma brincadeira
pra quem fez a seleção
ninguém dela escapava
do trote que ali se dava
era uma tradição.
Um belo dia na casa
duas novas criaturas
foram admitidas
sem conhecer a feitura
do fogo que esperavam
da prova que preparavam
para mais uma aventura.
Era um louro outro moreno
e nenhum era bonito
era corda e caçamba
pr’um exame esquisito
escolheram bem a dedo
na cidade um mancebo
que aplicasse o bendito.
Pra entrar no emprego
o exame era preciso
num doutor conceituado
que tivesse muito siso
era sempre indicado
pra saúde do chegado
nunca perder o seu riso.
Pra enganar os novatos
e ali justificar
disseram que os exames
pra naquela casa entrar
era de necessidade
com médicos da cidade
também se rodiziar.
Disseram ter encontrado
um médico novo então
esconderam a verdade
pois não era um doutor não
serviria para o trote
alegria do magote
que não tinha coração.
Escolheram uma figura
que no decorrer veremos
sem a qualificação
pois logo descobriremos
uma pessoa simplória
na cidade tinha história
que a seguir aqui traremos.
Preparados os papéis
os dois seguiram atrás
do endereço indicado
sem desconfiar jamais
que aquela brincadeira
ia ficar de primeira
registrada nos anais.
Saíram para o exame
os dois de papel na mão
seguiram pro endereço
com a maior ilusão
de encontrar um doutor
um grande pesquisador
vestido num jaquetão.
Mas com surpresa tanta
a começar pela rua
com o nome de São Pedro
numa pedra em meia-lua
era uma festa danada
muita gente na calçada
e muita criança nua.
Ficaram desconfiados
não se podia prever
naquele dia bonito
o que ia acontecer
a casa foi encontrada
a porta entre encostada
só precisava bater.
Com três palmas batidas
um senhor veio atender
vestido humildemente
e procurando entender
aqueles moços de pé
dizendo Dr. José
espera nos receber.
Muito lisonjeado
o senhor abriu do riso
fez os dois bem sentados
e o mais que foi preciso
e com muita emoção
o medidor de pressão
empunhou muito deciso.
Disse que há muito tempo
de muita gente tratava
das coisas que tinha feito
e da vida que levava
e agora da emoção
com toda dedicação
ao exame começava.
O loiro atendeu primeiro
num quarto bem isolado
e o moreno cabreiro
lá fora desconfiado
numa ansiedade louca
roendo unha co’a boca
se dando por esperado.
O exame se fazia
já se tinha 1 hora
do loiro lá se viu tudo
das arruelas as argolas
a roupa tirou todinha
e tudo que nele tinha
botou-se tudo pra fora.
Nada encontrando errado
o José se aquietou
foi um exame comprido
e nenhum canto de dor
apenas teve a visão
de mais um belo loirão
que seu instinto apalpou.
Mesmo assim afogueado
o equilíbrio encontrou
uma vitamina B-12
para o cliente passou
e aplicou a primeira
o loirão fez a besteira
em seu José confiou.
Ouviu lá do bendito
que de injeção eram seis
qu’ele estava tão fraco
podia-se ver na tez
que outro dia voltasse
por certo ia curar-se
deixasse de timidez.
Abriu-se o gabinete
e ainda meio agitado
o freguês saiu de banda
meio desorientado
vermelho de estrutura
a vitamina foi dura
dos 10cc aplicado.
O moreno nessa hora
vendo o amigo moroso
agarrou-se na cadeira
com olhar assombroso
era lá que pressentia
que havia chegado o dia
de enfrentar um tinhoso.
Como era obediente
mesmo com o que sentia
sua cabeça mandava
enfrentar a revelia
acompanhou o doutor
me guarde Nosso Senhor
inda quero ver o dia.
Banho de pergamanato
pro moreno se passou
da família potássio
um tratamento sem dor
ali aplicou José
aviou com muita fé
com todo seu despudor.
Um banho nas partes baixas
o seu José comentou
ao rapaz do riso largo
que agora se calou
pois não era ali seu plano
pois lhe pareceu insano
o que o Dr. provocou.
O moreno de vestiu
depois de mais de 1 hora
seu José se satisfez
naquele dia de gloria
pois atendeu a clientes
d’uma casa competente
um Banco de muita história.
O magote de colegas
que a José remeteu
os dois funcionários
ao trote que não morreu
pedira dele recibo
do exame ocorrido
de tudo que aconteceu.
Seu José bem contente
o seu recibo passou
recebeu os honorários
que um safado arrecadou
pedindo que o Banco olhasse
que os novatos voltassem
pro tratamento em vigor.
Foi grande a gozação
quando o recibo em pauta
no quadro de aviso foi
mostrado em caixa alta
os dois nunca contaram
o que com o Dr. passaram
pra gozo daquela malta.
Essa história que narrei
me foi contada aos poucos
pela amizade que tive
dos dois que fizeram soltos
contada depois de um ano
pois antes seria insano
pois nenhum era tão louco.
Mesmo assim desconfio
seu José era matreiro
de coisas que não contaram
do que fez o enfermeiro
pois no disfarce era rei
sessenta anos de gay
na cidade era o primeiro.
Mas quem aqui faz um mal
como esse trote pesado
seu José cobrou um ano
pelo feito do pecado
toda quinzena ele ia
cobrar do chefe a valia
do tratamento passado.
Os dois coitados então
nem podia ver seu Zé
sentia um frio no umbigo
hoje sabendo quem é
corriam para o banheiro
quando se via o enfermeiro
era aquele rapapé.
Mas foi bom o vexame
aprenderam como é
que pra fazer um exame
é melhor não se ter fé
pois neste meio de mundo
lá no meio lá no fundo
pode se encontrar um Zé.
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LITERATURA DE CORDEL
Por Marco di Aurélio
João Pessoa – Paraíba – Brasil
Junho de 2001.