cobre-me com teus lábios encarnados
o saldo em vermelho no banco
a conta do supermercado
cobre tudo e derrame o boticário sobre mim
toda essência e o bancário, seu dinheiro
cobre a penitência do beijo matinal
com gosto de salame
teus beijos no meu seio virginal
pise a grinalda no chão
a blusa desabotoada
cobre a conta passada
carnaval de cabelo arrepiado
dama de vermelho
maçã do pecado
sapato preto debaixo da cama
camisa amarrotada no canto
cinto desafivelado
teu rosto um pouco descorado
trago o toco do cigarro
apago
o primeiro beijo
com gosto de nicotina
traga o vinho tinto, traga a conta
tenho troco.
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Vaninha Lopes (Alma Gentil)
Alma minha, gentil
A grande conta vai aqui
Somada de dez em dez
Só não te pago um milhão
Porque só tenho mil réis
Mas assim que puder vê-la
Em meio a CONSTELAÇÃO
Prometo ser a estrela
A estender- te a mão
E num piscar reluzente
Vida adulta—inocente
Eu já velho, quase broco
Garanto que pra meus vinténs
Tu não tens que me dar troco.
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Roberto Pastoril
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