Vou saindo, meus amigos, já é hora
Vou partindo pra cantar noutro terreiro
Nesta vida sou qualquer aventureiro
Sou navio que não zarpa e nem ancora.
Pego a estrada antes mesmo da aurora
Pés descalços, vou cumprir a minha sina
Um artista com um palco na esquina
Um poeta pra contar alguma história
Não que tenha pretendido alguma glória
Mas o verso vez em quando desafina.
Sendo assim, vou seguir a longa estrada
Completando o que faltou ao aprendiz
Pra dar certo, desta vez, foi por um triz
Quase deixo uma marca registrada.
Doravante sigo u’a extensa caminhada
Aprendendo com a própria natureza
Com os peixes enfrentando a correnteza
Com as aves enfrentando um furacão
Com o vento que não perde a direção
E a raposa sobejando a esperteza.
Entrementes, vou ouvir alguns gorjeios
Pra melhor afinar minha viola
Pois assim nenhum mal me estiola
Nem me deixa em plangentes devaneios.
Já passei por abismos, por enleios
Por ataques, por perigos, por ciladas
Por amigos que cravaram as espadas
Em um peito desprovido de maldade
Dando golpes no que chamam amizade
Malferindo, sem razão, minhas toadas.
Andarilho não se prende a paisagens
Muito menos fica preso a conceitos
Não procura esconder os seus defeitos
Quando passa pelas crises de miragens.
Sua vida é composta de bobagens
Captadas em estradas sem destino
Consciência muito leve, qual menino
Tem a mente reservada ao prazer
No caminho que pretende percorrer
Cuja história se converte no seu hino.
Sem eventos, sem qualquer hora marcada
Sem estresse do que chamam de rotina
Sem imposto, prestação ou gasolina
Sem metrô, sem perua, sem mesada.
Sem diploma que não serve para nada
Sem os shoppings que arrasam o cartão
Sem o guarda flagrando na contramão
É a vida de quem quer ser andarilho
Que em regra vai passando maltrapilho
Mas repele a cruel escravidão.