Todo Sábado de Aleluia
É tradição malhar Judas
Sua condenação é certa
Corre à boca-miúda
Mesmo um bom advogado
Não dará grande ajuda
Pra minimizar seu crime
E diminuir sua pena
Vai fazer um testamento
Tentando mudar a cena
Mas seu crime de tão grave
Fatalmente o condena
Nem mesmo seu advogado
Péricles Maia Figueiredo
Conseguiu um atenuante
Do crime mudar o enredo
E tirar o criminoso
Deste grande atoledo
Porém ser for condenado
Vai manter o testamento.
Messias já caiu dum cavalo
Por isso ganhou um jumento
O bicho vem com cangalha
Mas um pouco lazarento
Por Carlinhos Percussão
Deixou um par de chuteira
Uma camisa estampada
Um sapato com biqueira
Para dançar num forró
Ou mesmo numa gafieira
Por Pedro George Marinho
Um jeep que foi do Zé Lobo
Uma tv ABC
Para ver a TV Globo
Assistir ao Big Brother
Se ele for mesmo bobo
Para o Penicilina
Vai deixar umas seringas
Para aplicar injeção
Nas quengas e nos baitingas
Contra todas as doenças
Na serra e na caatinga
Deixou ainda para ele
Quinaipos e alpargatas
Pra dançar no Caravele
E arranjar umas gatas
Também nas segundas-feiras
Aproveitar o Pirata
Para seu amigo Pekin
Por trabalho de advogado
Deixa de Clóvis Beviláqua
Livro velho e rasgado
E também uma tv
Pra assistir o Bem-Amado
Para o Raimundo Alcântara
Sanfoneiro e tecladista
Deixa um teclado Gammer
De música uma revista
O querido Zé Antônio
Nosso maior guitarrista
Boa guitarra Giannini
Relíquia do Padre Prata
Do saudoso padre Caldas
Ganha uma velha bata
E doutro eclesiástico
Velho par de alpargatas
Para nosso Espraia Brasa
Dos Demais um microfone
Um compacto, um LP
Da grande Rita Pavoni
Uma radiola portátil
Com um par de gramofone
Para Gilvan Serafim
Um antigo capacete
Usado em aviação
Também um velho trinchete
Comprado numa bodega
Lá no Beco do Cacete
Pra amigo Pacoti
Pra ele ter mais respaldo
Ao escrever seus cordéis
Deixo do Cego Aderaldo
Peleja com Zé Pretinho
E também com um soldado
Para o Carlinhos Viana
Deixo luva de goleiro
Do tempo do Salesiano
Que estava no mosteiro
Dos antigos Jesuítas
Dentro de um formigueiro
Para seu irmão Delano
Que também foi goleiro
Vai receber de presente
Antigo e grande sobreiro
Que foi do padre Murilo
Do padre Caldas isqueiro
Para Danilo Marinho
Deixo bola de espiribol
E para doutor Almir
Deixo linha e anzol
Para Júlio César Lopes
Uma lata de cerol
Um estoque de Lancaster
Para Maninho Taveira
Deixa pra ele vender
Na loja ou lá na feira
Se não tiver comprador
Dê pro Flávio Oliveira
Pra nosso César Barreto
Nosso grande menestrel
Por não haver mais herança
Vou deixar este cordel
Como meu testamenteiro
Que ele faça seu papel
Como testemunha o Cleonte
Lá no Sabor Nordestino
Leia este meu testamento
Para cumprir seu destino
E ele faça uma festa
Com cerveja e caprino.
FORTALEZA, 15 DE JANEIRO DE 2024
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
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