Vou te contar uma história
Que se passou no Distrito Federal,
Com uma dessas donzelas
Que vem trabalhar na capital.
A coitadinha me disse
Que era de família numerosa,
Que a vida estava difícil
Que se cansou dos políticos e suas prosas.
Morava no sertão de Nova York
Nem o desjejum tinha pra comer,
Como era de pouca sorte
Nada poderia nesta vida fazer.
Pensei cá comigo, está quenguinha está com fome
Vou lhe servir uma comidinha,
Servi brócolis, quiabo, cenoura e inhame
Mas ela ficou só no arroz com galinha.
Como a fome me pareceu santa
Reforcei com cuscuz e suco de limão,
Mas ela me disse que aquilo nem ver
Azedou a barriga do irmão.
Quando a conversa ficou mais solta
Sorriu que seu fraco era "iorgute e coca de latinha",
Eu fiquei pensando com as mãos no bolso:
Essa modernidade é dele não é minha.
Mas depois de tanta conversa
Atrevi-me a falar do principal,
Quanto pagar pelos préstimos da auxiliar
Nunca empregada doméstica ou serviçal.
Ela disse de pronto: o salário sim sinhô!
Ticket alimentação, férias e descanso remunerado,
Que não tô aqui pra da vida boa pra dotô.
Mudei de assunto, quis saber se cozinhava o trivial.
Respondeu que em serviços de cozinha não mexia,
Não arrumava, não lavava e passava muito mal.
Fiquei espantado com sua tamanha disposição;
Pra ficar sem fazer nada,
Cuidando do telefone, geladeira e televisão.
Pedi desculpas pra donzela
Mandei procurar outro patrão,
A casa sempre foi bem cuidada sem ela
Pra dona patroa eu dou uma mão.