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Cordel-->REMORSO -- 12/01/2000 - 13:47 (sileimann kalil botelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REMORSO
S. Kalil Botelho

Seu dotô, Balsas, que é linda,
Fica lá pra donde finda
Os agrestes do sertão.
Apois foi lá, seu dotô,
Qui nascêro meus avô,
Meus tio e a famiação.

Foi lá que a mãe, a Juanita,
Uma moçona bonita
Qui gostava de sambá,
Incontrô um véi matreiro,
Qui vei lá do istrangeiro
Pra com ela se casá.

Foi lá que, num dia santo,
Mãe Juana chorou um pranto,
Qui disse sê de aligria,
Pois lá na casa dos véio,
Um bebé gordo tetéio,
Este cabra aqui nacia.

E foi lá naquelas borda
Qui eu crici pulando corda,
Brincando de si iscondê,
Boca de forno, andorinha,
Nas roda da cirandinha
Tudo bunito, um prazê.

Mais, cum os ano, fui crecendo
E os meus pais foi dizendo
Qui eu percisava istudá.
Mais eu juro a vosmincê
Qui é mais mió aprendê
Dá tiro e tarrafiá.
... ... ... ... ... ...

Me criei um cabra forte.
Naquelas banda do norte,
Valente, fui um dos tá.
Hoje, quage um disvalido,
Vivo quá bicho firido,
Pensando inté me matá.

Se vancê num tá cum pressa,
Iscute a minha cunversa
E ispie se me aconseia;
Pois dotô, essa mia vida
Tem sido tão inquirida
Qui nem cavalo na pêia.

Eu era um touro sarvaje
Qui vivia de viaje
Nos varjão da minha terra;
Hoje to quaje arrazado,
E, rife discalibrado,
Vai prus canto, quando imperra.

Num timia as mata virge,
Nem nunca sintí vertige
Cum medo de cascavé;
Mais seu dotô, tome tento,
Num vale chamar São Bento
Pra se alivrá de muié.

E é muié mermo, no duro,
Qui me traz assim siguro
Nesse grande cipuá.
Vá matutando, dotô
Qui esse negoço de amô
É danado pra inguiçá.

E, se tombém qué conseio,
Iscute um sem riceio
E guarde bem pra vancê:
- Se afaste delas, das bicha,
Pois o home qui inrabicha
Tá doido pra se perdê.

Foi assim u a coisa atoa:
Numa pesca de lagoa
Incontrei a tar dengosa
Sentada, tratando peixe,
Os home, inroda, era um feixe
Cada quá dizendo prosa.

Num sei pruquê, seu dotô,
Juro pur Nosso Sinhô
Qui, dêrna aquele momento,
Sintí o sangue fervê.
Tarvêis ache vosmicê
Qui é pur sê eu ciumento!
Dispois da pesca, a festança;
Tem cachaçada, tem dança,
É custume no sertão;
E eu, qui sou bom no pagode,
Butei loção no bigode
Pra fazê conquistação.

Foi a minha perdedeira,
Seu dotô, num é brincadeira,
Faça o favô de iscutá:
Ao chegá incontrei Rita,
A tratadeira catita
Qui eu quiria aconquistá.

Me acheguei pra perto dela,
Mais o diacho da donzela
Cumigo ficou arisca;
E ói eu de água na boca:
-- A gente fica inté louca
Quando ispia e num pitisca!

Fiz feitiço, fiz mandinga,
Me internei pulas catinga
Pensando matá, morrê...
E eu qui inté nem sou de ingreja,
Sim sinhô, pois ora e veja,
Fiz premessas pra valê!

Mais dotô, num teve geito.
A marvada nem fingia!
Num me oiava, num surria,
Num tinha nem cumpaixão!...
Os rapais tudo imbeiçado,
Tudo leso, apaxonado
Pula aquela perdição!

Seu dotô, eu fiquei giba,
Saí de cara pra riba,
Internado pulos os mato,
Sem drumí e sem cumê,
E dei inté pra bebê
Eu qui era home pacato.

Fui piorando, piorando,
E, ao dispois, arreparando,
Vi qui tava arriliado
Pur vê qui a fremosa Rita,
Aquela muié bunita,
Tinha arguém de seu agrado.

E, tarquarmente um maluco,
Fui arranjá um trabuco,
Butei tocaia no Juão
Qui, sem tê curpa de nada,
Foi morrê lá na istrada,
C um tiro no coração!

Matei!... Eu matei o Juão!
Mais num matei a paixão
Qui tinha por ele a Rita!
Qui, vendo morto o amante,
Num arterou o sombrante,
Num feis baruio nem fita,
Nem mermo feis confusão.
Puxou a faca, a Peixeira,
Beijou-lhe a veis derradeira
E se feriu no coração.
Ficou mais linda, subrime...
E, mardizendo o meu crime,
Morreu abraçada ao Juão.

Sou hoje um home perdido.
Vivo fugido, iscundido
Cuma os bicho lá da serra.
Pur paixão fui criminoso;
Meu crime foi tão mardoso
Qui num tem perdão na terra.

Mais,lá do céu, Jisus Cristo,
Qui tanto amô pra sofrê,
- Ele mi perdoe puristo
Qui agora eu vou dizê -
O própio Cristo-Jisus,
Do arto da sua cruz
Perdoa quando eu morrê!

Mais num fico assucegado,
Purquê home apaxonado
In tudo vê seu amô
Qui, imbora tendo murrido,
Fica vivo, bem vivido
Cuma vive a sua dô!

Ela in tudo me aparece:
Numa visão crece, crece...
In tudo vejo a donzela,
Sempre fermosa, catita,
Vejo sempre a minha Rita
Cada veis muito mais bela.

Mais, atrás dela, tá Juão,
- Juão qui foi assassinado -
Me fazendo assombração,
Me tornando alucinado.
Pois pió qui o amô sem cura
É a doidiça, a loucura,
Remorso de tê matado!!!
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