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Cordel-->A peleja virtual de Zé Limeira com Gilberto Gil -- 26/01/2000 - 17:39 (Adalberto Silveira Passos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Certo dia Zé Limeira,
Poeta paraibano,
Encontrou Gilberto Gil
No meio do oceano
E então disse: - Aquele abraço,
Ilustre cantor baiano!

Estando lá no sertão,
Sentado na sua sala,
Zé Limeira avistou Gil
Frente ao golfo de Bengala
Tomando água de coco
Enquanto arrumava a mala.

Através da Internet
Gil avistou Zé Limeira
E disse num cumprimento:
- Meu nobre cantor de feira
é um prazer encontrá-lo
Nessa terra brasileira.

Foi aí que o poeta
Zé Limeira deu a pista:
- Não adianta fugir
Pra sair da minha lista
Onde você estiver,
Te pego no Altavista.

E tem mais, eu adianto,
Vou falar para você,
Se fugir para o sertão
Pros lados de Mucugê
Eu te encontro em um minuto,
Pesquisando no Cadê.

Nesse ponto, Zé Limeira
disse: - Não me leve a mal,
Quero apenas convidá-lo
Pra um debate virtual
Gil respondeu: - é agora!
Um show internacional.

A notícia se espalhou
Através dos backbones
Despertou o interesse
De dorminhocos e insones
Deixando congestionadas
As linhas de telefones.

Nessas alturas do papo
Já era grande a platéia
Que se sentiu atraída
Pela belíssima idéia
Até Jesus aguardava
Frente ao mar da Galiléia.

Cervantes lá de Madrid,
Cesária lá da Gamboa,
Camões da beira do Tejo,
Com o prefeito de Lisboa,
Caetano de Santo Amaro
Junto a Fernando Pessoa.

Gal que estava de viagem
Passando por Moçambique
Quando soube da peleja
Disse: - Vou ter um chilique.
Pegou o computador,
Foi ao debate em um clique.

Bethânia soube do fato
Durante um show em Macau,
E logo ficou pensando:
Um deles entra no pau,
Zé Limeira é muito bom
E Gil não é nada mal.

Elba Ramalho cantava
Na praça de Guarabira
Cidade paraibana,
Que estava em sua mira,
Ao saber dessa contenda
Pensou que fosse mentira.

Do outro lado do mundo
Formou-se uma confusão,
O povo todo assistia,
Da Indonésia ao Japão,
Era interessante ver
Gandhi com um mouse na mão.

Um filósofo chinês
Telefonou pra Bahia
E encontrou Raul Seixas
Na casa de uma tia,
Disse: - Entre na Internet,
Que hoje é um grande dia.

Todo mundo estava atento
Em qualquer lugar do mapa
Gutemberg Guarabira
Lá de Bom Jesus da Lapa
Teve que interromper
Uma conversa com o Papa.

Lá em São Tomé e Príncipe
Não se fazia mais nada
Por causa desse debate
A nação ficou parada
Foi necessário um apelo
Do governo Trovoada.

O palácio da rainha
No reino da Inglaterra
Foi mais um ponto ligado
Nesse grande show da terra
Que prendeu a atenção
Do Paquistão a Camberra.

No sertão da Paraíba
Trovejou e fez garoa
O povo fazia festa
Em tributo aos reis da loa
Parece que um terremoto
Sacudia João Pessoa.

Foi quando veio o silêncio
E acabou a cerveja
Todo mundo entrou em casa
Nessa tarde sertaneja
Pois já ia começar
Na Internet, a peleja.

Zé Limeira disse assim:
Amigo Gilberto Gil
Sei que você é querido
Em todo nosso Brasil
Mas pra vencer o cabra aqui
Venha armado de fuzil.

O baiano respondeu:
Isso é uma bobagem sua
Não preciso de fuzil
Nem aqui e nem na lua
Basta a beleza dos versos
Que aprendi na minha rua.

O bardo paraibano
Perguntou de imediato:
Que verso é esse de rua?
Não sei se é verso de fato
Não fale palavra errada
Se falar errado eu mato.

Pois bem, meu nobre poeta
Da Paraíba afamada
Diga o que é palavra certa
Disse Gil, numa cartada,
Se falar errado eu mato
Não fale palavra errada.

Zé Limeira, muito esperto,
Apertou o seu rival
Respondendo que o certo
Não é algo natural
Pois o torto predomina
E por isso é que é normal.

- Pois muito bem, disse Gil
Vamos a algo concreto
Quero que você responda
O que é que está correto
Inseto matar o homem
Ou ele matar inseto.

Respondeu-lhe Zé Limeira:
- Esta é boa pra você
O inseto quando mata
Pega o bicho pra comer
Mas o bicho homem às vezes
Mata e nem sabe o porquê.

Quando Sansão e Dalila
Começaram a namorar
Eu falei pra Shakespeare
Eles formam belo par
Dalila matou Sansão
Em pleno banho de mar.

- Você é inteligente
Falou Gil de imediato
Vou fazer outra pergunta
E me responda no ato
Quem tem culpa e quem é santo
O boi ou o carrapato?

- Todo mundo quer viver,
Filosofou Zé Limeira
Se o boi come capim
E urubu come caveira
O carrapato também
Quer tirar a sua beira.

O problema é que o homem
Quer tirar beira de mais
E acabar com o sossego
Dos outros pobres mortais
A destruição é vista
Do sertão às capitais.

Gilberto Gil concordou,
Dizendo ao grande poeta:
- Eu penso da mesma forma
Sua palavra está correta
Defender a natureza
Sempre foi a minha meta.

E Zé Limeira emendou:
- Então estamos no empate
Não vejo qualquer razão
Pra prosseguir no debate
Pois discutir concordando
É um grande disparate.

A discussão entre os dois
Aí chegou a seu fim
Zé Limeira viajou
Para Quixeramobim
Gilberto Gil por seu lado
Foi pra Costa do Marfim.

Tanto tece o tecelão
Quanto a moça no tear
Na teia da Internet
Cada um vai se achar
Se viver não é preciso
É preciso navegar.
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