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Cordel-->ZÉ MORINGA, DOUTOR -- 09/10/2002 - 15:55 (Antonio Albino Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Zé moringa, cabra macho
Nascido em Jaraguá,
Nasceu tão miudinho
Que o chamaram Zé Sabiá,
O Moringa é apelido
Com os tempos adquirido
No convívio de seu lar.

E cresceu o mirradinho,
Pensando em ser doutor,
Pra cuidar dos desnutridos,
Evitando tanta dor,
Que causava o nascimento
De mais um pobre rebento,
Muito fraco e sofredor.

Quinze irmãos ele tinha:
Nove moças, seis varões;
Zé Moringa era o caçula
Da prole, sem condições,
Mas não parecia incômodo,
Numa casa de três cômodos,
Lá dormiam aos empurrões.

Da família era o único
A escola freqüentar.
Sete léguas de distância
Percorria para estudar,
Atrás do sonho de criança,
Não perdia a esperança,
Um dia, iria se formar.

Muito tempo depois
Já tinha diploma na mão;
Segundo grau completado,
Faltava só o diplomão,
Foi para a Capital,
Em faculdade nacional,
Buscar a satisfação.

Muitos anos afastado
Da família e da cidade,
Só estudo e sacrifício,
Em busca da felicidade,
Todo mês Zé recebia,
Pelo correio, uma quantia,
Pra cobrir as necessidades.

Já formado, o cidadão,
Sem trabalho encontrar,
Despediu-se do exterior,
Para a terra natal retornar,
E cumprir seu sonho antigo,
De cuidar dos desnutridos,
Ali era seu lugar.

Seu retorno foi com festa,
Teve churrasco de novilho,
A família havia crescido,
Seus irmãos já tinham filhos,
Seus pais, tão velhinhos,
Receberam-no com carinho,
O menino voltava ao trilho.

Zé moringa se assustou
Com aquela recepção.
De onde saiu a grana
Pra tamanha animação?
Tinha cerveja à vontade,
E quase toda a cidade
Estava ali, na reunião.

Foi então que lhe explicaram
O por que de tal pujança,
Do mesmo modo que ele,
Os irmãos tinham esperança,
Era irmã, primo e irmão,
Todos juntos na confecção
De roupas para crianças.

E o dinheiro do negócio
Aumentou rapidamente,
Um irmão era prefeito,
Chefe daquela gente.
E pensar que Zé Alberto,
Irmão quase analfabeto,
Hoje era dirigente.

E Zé Moringa, estudado,
Especializado no exterior,
Estava ali a provar
O penar e o dissabor.
Dependia do prefeito,
Que iria dar um jeito
Pra empregar Mano Doutor.

Com salário de miséria
Dr. Zé se instalou,
Do irmão Zé Ostrequino
Uma casinha ganhou.
A prima Marivalda,
Lhe apresentou Esmeralda
Que com ele se casou.

Ali Zé se estabeleceu,
O ajudava no atendimento,
Esmeralda, enfermeira,
Com quem tinha seus momentos.
E a família cresceu,
Nasceu um, outra nasceu,
Logo eram dez rebentos.

Não sei se Zé se arrependeu,
Mas é dura a realidade,
São tantos os investimentos,
Noutro país, noutra cidade,
E às vezes se descobre,
Que não é estudo ou cobre
Que lhe trará felicidade.

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