Nunca morei no estrangeiro,
Não falo francês nem inglês,
Sou um caboclo brejeiro,
Mal domino o português.
Nem lá nem em outro lugar
Tem a cultura popular
Do nosso chão brasileiro.
Lá seus livros são de couro,
Com texto mui rebuscado
E título gravado a ouro,
Mas não tem cordel rimado
No varal dependurado
Deste solo muito amado
Que não é árabe nem mouro.
Já li o ciumento "Otelo"
E "Os Miseráveis" - sem abrigo,
Ao som do violoncelo
Li o "Crime e Castigo".
Li peças, poemas, sonetos,
Mas nada como os sextetos
Do nosoo cordel tão singelo.
O belo do nosso folclore
Não está na erudição,
Nem Lincoln nem Al Gore
Têm tamanha inspiração:
O cordel, em desatino,
Tem o sabor nordestino
De uma buchada de bode.