Há muito tempo passado,
Nos tempos do meu avô,
Um fato foi realizado
No sul do nosso Brasil.
Jaebé, um jovem forte,
Um dia se apaixonou;
A moça, bela e singela,
Retribuiu ao sentimento
Desd o dia em que o viu.
Jaebé foi ao pai dela,
Pedi-la em casamento
Quando o pai lhe perguntou:
-"Que provas podes dar
De tua força e valor
Prá da moça mais bela
Ser então merecedor?"
Jaebé foi decidido,
E uma resposta arriscou:
-"As provas que posso dar
São provas do meu amor"
Desta resposta sincera
O velho índio gostou
Porém por achá-lo atrevido
O ancião sentenciou:
-"Muitos vieram propor
Tomá-la em casamento,
Porque não tiveram valor
Não dei o consentimento."
O velho quedou-se a pensar
E por fim recrudesceu:
-"O último a querer se casar
Em jejum me prometeu
Por cinco dias ficar.
Por tres dias não comeu,
No quarto, por fraquejar,
Não resistiu e morreu."
Jaebé então, num repente,
Cheio da força do amor,
Ao velho diz esplendente
Mostrando o jovem vigor:
-"Nove dias penarei,
Para mostrar-lhe valor,
E prometo, não morrerei,
Lutarei por meu amor!"
A tribo se aterrorizou
Com a coragem de Jaebé.
E o velho se pronunciou:
-"Que vença o amor e a fé!"
Tendo assim determinado
O velho a todos espanta:
O rapaz foi enrolado
Num pesado couro de anta.
Dia e noite vigiado,
De lá não podia sair,
Não podia comer, o coitado,
Também não podia dormir.
A jovem em alto clamor
Foi à deusa da Lua pedir,
-"Não deixa morrer meu amor,
Não deixa ele partir!"
Mas a Lua, muito fria
Seus apelos não ouviu;
Ao final do quinto dia
A seu pai ela pediu:
-"Cinco dias se passaram,
Não o deixe morrer!"
E o velho, insensivelmente,
Julgando o jovem arrogante
Não teve pena da dor:
-"Encare a morte de frente,
Pois parece um gigante
Quem tem a força do amor!"
Somente no sexto dia
Na hora do Sol se por
O velho ouviu sua filha,
Quiz pôr fim em sua dor.
Com a tribo reunida
Sob o branco do luar
Deu a missão por cumprida,
Jaebé iria soltar!
Abriu o couro da anta,
Todos então se assustaram,
Jaebé célere se levanta
Seus olhos vivos brilharam.
Sua pele recendia
A perfume de amêndoa,
Seu sorriso luz emitia
Que a alma desnodoa.
Quando seu olhar cruzou
O olhar de sua amada,
Jaebé, qual pássaro, cantou
O canto da liberdade.
Assim cantando alegremente,
Seu corpo se transformou
Num belo pássaro luzente
Que para a Lua voou.
Seguiu-se silêncio profundo,
Nuvens negras a Lua ocultaram.
Nunca se viu neste mundo
Dois jovens que tanto se amaram.
Eis que na índia formosa
Iniciou-se a transformação
Na ave mais graciosa
De bela coloração.
Esta história é verdadeira
Conforme os índios narraram,
João-de-barro e sua parceira
Nunca mais se separaram.
Nota do autor:
João-de-barro (Furnarius rufus)
Caracterização
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Mede 19 cm. Os sexos são muito parecidos, a fêmea pode ser
identificada, pelo hábito de ocupar à noite, sozinha, o ninho
com ovos e filhotes. Plumagem de cor parda, com cor ferrugem
nas costas e especialmente na cauda.
Habitat
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Campos desprovidos de vegetação mais alta, abundante nas fazendas,
parques e até nas cidades.
Distribuição
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Ocorre da Argentina à Bolívia, Paraguai, noroeste da Bahia e
sul do Piauí. Em Campinas só apareceu por volta de 1900.
Hábitos
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Constroem seu ninho em formato de forno, um por ano, com barro úmido
e um pouco de esterco, misturado à palha. Escolhe
um local bem aberto para instalar-se, como por exemplo
árvores isoladas, postes de iluminação. O casal trabalha em conjunto,
após 18 dias o ninho está pronto.
Alimentação
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Consiste de insetos e suas larvas, aranhas, opiliões e outros artrópodes, moluscos, ocasionalmente come sementes.
Reprodução
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Faz seu ninho em formato de forno, contruíndo um a cada ano, com
barro úmido e um pouco de esterco, misturado à palha.
Escolhe um local bem aberto para instalar-se, como exemplo árvores
isoladas, postes de iluminação. O casal trabalha em conjunto,
após 18 dias o ninho está pronto.
Põe de 3 a 4 ovos a partir de setembro.
Manifestações sonoras
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O casal solta seu canto, forte grito ou gargalhada, frequentemente
em conjunto. O joão-de-barro é mais ativo nas horas mais
quentes e claras ao contrário de outras espécies da família.
Seu canto tem seqüências rítmicas mais prolongadas como que um
canto festivo, crescente e decrescente; o casal sincroniza um dueto.