Beijei a boca da noite
Com lábios de sedução
Provei o sabor do escuro
Bateu forte o coração
Os pêlos arrepiaram
Os dedos se encontraram
Abraçando a escuridão.
Tava no meio do tempo
Olhei com os olhos da rua
Uma estrela se despindo
Tomando banho de lua
Eu senti novo prazer,
Mas nada pude fazer
Com aquela beleza nua.
Botei a boca no mundo
Enchendo o bucho de vento
Quebrei um dente de alho
quando expulsei meu lamento
Mordi a língua de trapo
Para não engolir sapo
Quebrei o meu juramento.
No ouvido de mercador
Com a paciência de Jô
De tanto correr cansei
No meu viver dei um nó
Na minha casa sou o galo,
Mas nada digo me calo
Se a galinha é carijó.
Não nasci com a bunda
Virada para lua cheia
Nem em um berço de ouro
Minha vida já foi feia
Por santa Maria Gorete
Minha mãe pariu foi sete
Se ela tem mais um, arreia.
Ouvindo o galo cantar
Sem saber aonde era
Olhei a banda passar
Tocando na atmosfera
Sofri com pé de atleta
Não tirei o meu da reta
Naquela fila de espera.
Andei em campo minado
Fiz um enorme omelete
com todos ovos inteiros
Colei vida com chiclete
Me alimentei de ilusão
Nunca pus os pés no chão
Tomei banho de confete.