Para que ser aberto um inquérito?
Alguém duvida do fator crucial
Que levou o S-21 a virar pretérito?
Pois aqui vai a versão oficial:
Afundou cumprindo com o dever
Qualquer insinuação tem nada a ver
Que demais estar havendo um churrasco?
Que há de estranho em afundar no cais?
Valeria a pena chamar os fiscais
Se em vez de afundar caísse de um penhasco.
Quem está na chuva é para se molhar
O que está no mar é para afundar
Se tiver costume de mergulhar
Muito mais fácil o caso de se dar
Basta um descuido, despreocupação
Que o submarino sofre inundação
Pode, deve, é feito para alagar
Porém, numa parte determinada
Só nos tanques de lastro e mais nada
Se deles vazar pode naufragar.
É um perigo constante a submersão
A água do mar tem que ser bem contida
Para não cumprir a sua vocação
De destruição. De investida a investida
Dissolve o rochedo, leva a pique
A embarcação que a desqualifique
Bom mesmo é tratar com todo respeito
Nunca se deixar tomar pela soberba
Pois mesmo sendo dela que se beba
Não é com água que enchemos o peito.
Tanta ciência e periculosidade
Exige tripulação de primeira
Pessoal treinado em adversidade
Acostumado a obedecer com cegueira
A seguir as ordens sem questionar
A responder prontamente ao sonar
Iniciar rotinas maquinalmente
Sejam elas procedimentos diários,
Um ataque a inimigos imaginários,
Ou manobra de fuga da mais urgente.
Desempenha um papel preponderante
O comando, a ordem, no militarismo,
Regente do universo beligerante
Não cabem ponderações, é anarquismo.
Se negar a cumprir ordem expressa
Dá cana, côrte marcial, não tem essa
Uma ordem dada por um militar
É coisa séria, garante a unidade
Vem amplificada de autoridade
E ainda é fato corriqueiro gritar
Por essa via que o incidente se deu;
Nada além da separação bombástica,
Do condicionamento que cedeu
O juízo pela obediência automática,
Que faz que o militar tenha somente
O cumprimento da ordem em sua mente.
Existe até a expressão legalizada:
"É inocente, estava cumprindo o dever"
(Ao fazer o que deu náuseas de ver.)
Como se um cabide movesse a farda.
Nada mais que reflexa obediência
À ordem recebida, algo confusa,
Enrolada é verdade, deram ciência
Depois disso, também que não se usa
O procedimento de submersão
Com o barco atracado em revisão
Foi questão de segundos se perder
Logo não tinha mais jeito a dar
Nada pra fazer a não ser nadar
Antes da escotilha quase os prender
De cima uns bebuns estupefatos
Viam o Tonelero afundar...Por que?
Souberam depois que foram os gritos
SUBMERGIR! SUBMERGIR! SUBMERGIR! que
Deram para ver quem seria o próprio
Já com cerveja até o periscópio
A ficar de pé mais uma rodada
Falaram alto com o copo erguido
Lastro cheio...como o líquido sorvido...
Só uma analogia, coisa da nada.