“Nada mais se faz nesta terra que não seja marchar!”
“Caminhando e cantando”, ensinou o poeta um dia; assim arrasta na estrada longa fila da agonia.
A pé ou de carro chique, de trator ou avião, todos marcham convencidos de estar defendendo a nação.
Sem trabalho, sem comida, marcha o branco marcha o negro, sonhando com o feliz dia, de conseguir seu emprego.
Sendo rico, sendo pobre, operário, ou barnabé; todos marcham confiantes seja homem ou mulher.
Andam jovens e aposentados, por idealismo ou lazer; muitos em busca do nada,
poucos por algum dever.
Marcha a turma da Justiça: juizes e advogados; pois nesta hora de marcha ninguém quer ficar de lado.
Marcha a Igreja dividida, que nem sabe onde vai; se a procura de dízimo ou se na busca do Pai.
Politicos também marcham, só que escolhem o lugar: é só na hora que ela sai ena hora dela chegar.
Muitos marcham com razão, defendendo o de comer; outros, apenas marcham por uma imagem na TV.
Virou!, a coisa virou! Mudou a razão de marchar; agora quem marcha menos é a classe militar.
Recolhida à caserna, depois de muito errar; devolveu a “pátria amada” para o povo comandar.
Marcha o jovem estudante, marcha o idoso senil; motejando e repetindo: “vamos salvar o Brasil”.
Mas a marcha que ora vejo, é marcha de “Dirceus”,de “Orestes”, não dá para comparar com a Grande Marcha do Prestes.
Recordo ainda outro nome - o de Francisco Julião - este sim comandou, grande marcha no sertão.
Deu honra e dignidade e mostrou ao camponês, que unido em um ideal o povo pode ter sua vez.
Hoje, ouço falsos líderes que só pensam em uma obra: fazer do povo sofrido sua massa de manobra.
Avisa até o governante estar disposto a marchar; pois não aceita que seu rio vá desaguar noutro mar.
Marcha o Zé, marcha a Maria - ele pensa ser herói -, o Zé acaba na cova, e a Maria na...Playboy.
Não vejo nem nestas marchas, de quarenta ou cem mil; nada mais que o desejo de presidir o Brasil.
Marcham “com” e “sem terras”, num mesmo caminho Central, que visa só benevolência, lá do “Planalto Imoral”.
E assim vamos marchando, nesta estrada que não tem fim, muitos marcharam antes, vários depois de mim!