Intransigente retórica
do pensador contraditório
é atitude histórica
de ato abjuratório.
Vamos trocar por miúdo
a cabeça do cordel.
Ninguém entende de tudo
que é posto no papel.
Tese da perversidade,
pra quem pensa vai-ou-racha,
é contra modernidade,
de cara não a despacha.
Vive em mundo hostil,
face ao que é moderno,
tendo que dar nota mil
sem denegrir o sempterno.
Clima intelectual
exige valor positivo
pra agenda social
do progressista ativo.
A facção adversária
não se lança em aberto
contra meta adversária,
que é dada como certo.
Com ou sem sinceridade,
ela endossa a meta.
Tendo oportunidade,
critica e até veta.
Vem logo e diagnostica:
produzirá tal ação
no ambiente titica,
mil efeitos sem noção.
Objetivo colimado
dará exato oposto,
isso está é errado,
do jeito que foi imposto.
É ousada manobra,
arte intelectual,
pra quem não sabe de sobra,
e só vê de um pontal.
Simples é o argumento,
mas é tal afirmação
muito forte no momento,
e já tem clara função.
Não se afirma somente
que a meta vai frustrar,
ou é de custos crescente
ou efeitos maus trará.
Tese da perversidade
diz que tentar empurrar
alguma sociedade
para um fim alcançar,
fará com que ela, sim,
pegue caminho contrário,
desviando-se do fim,
de um modo refratário.
Se ela tenta ser livre,
vem a tal escravidão,
se busca democracia,
vem a tal oligarquia
e, também, a tirania.
A meta de bem-estar
e folgada alegria
em pobreza vai findar.
Qualquer tiro que se der
sairá pela culatra,
seja boa meta qualquer
posta por um demolatra.
Que se cuide do Iraque
pra democracia ter,
revolução de "araque"
gera tirano sem ver.
Que se cuide o Brasil!
Com tamanha tolerância
aos bandidos com fuzil,
cultua a mendicância
não gerando mais empregos,
mal educando seus filhos,
eternizando pelegos,
saindo fora dos trilhos.
Assim pensando não age
quem não tem a boa-fé
e freqüenta entourage
como uma santa sé.
Prever efeito perverso
mais enxágua uma roda,
mas quem tem caráter terso
com ele não se açoda.
Texto base: "A retórica da intransigência -
perversidade, futilidade e ameaça"- Albert O. Hirschman-
Companhia das Letras.
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