O EXAME DO FRANCELINO
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Quem nunca fez um exame
De rotina ou de emergência
Não sabe o que é sofrimento
Tenha a santa paciência
Tem exame complicado
Que deixa a gente acanhado
Pedindo a Deus por clemência
Um exame de urina
Uma radiografia
Prá saber o diagnóstico
E aplicar a terapia
Um hemograma completo
Uma dedada no reto
Uma radioscopia
Uma chapa do pulmão
Um eletrocardiograma
Nada disso se compara
Ao tal do espermograma
Que é feito logo cedinho
A gente recebe um vidrinho
E começa toda a trama
Assim foi com Francelino
Um amigo de respeito
Que já tinha certa idade
Um cavalheiro perfeito
Mas apareceu na urina
Sangue da cor de albumina
Preocupante o defeito
Foi logo ao urologista
E contou a sua história
E o médico logo disse
Puxe por sua memória
Parece doença do mundo
De algum lugar imundo
Maria, Antônia ou Glória ?
Francelino nada disse
Preferiu ficar calado
E foi fazer o exame
Para o caso indicado
O tal do espermograma
Assim começou o drama
Daquele pobre coitado
Chegou no laboratório
Logo pela manhazinha
Fazia um pouco de frio
E lhe deram a latinha
Prá colher o material
Num esforço sexual
Pois nem vontade ele tinha
Entrou logo no banheiro
Sem um pingo de tesão
Sentou no vaso sanitário
Com a revista na mão
Começava o sofrimento
Era grande o seu tormento
Pois não havia ereção
E o Francelino insistindo
Alisava a coisa fria
O negócio incentivando
E o teimoso não crescia
Até que a página virou
E uma loira encontrou
Ao seu gosto parecia
Concentrado e bem nervoso
Procurou a solução
Olhava bem pra revista
Pra resolver a questão
Mas quando chegava perto
A coisa não dava certo
Só tinha uma explicação
Na idade do Francleino
Não se faz sexo com a mão
Há tempos que esquecera
A tal da masturbação
E não adiantava insistir
Nada do bicho subir
Sem haver concentração
Até que num dado momento
De tanto esquentar o piu-piu
A coisa deu resultado
E o negócio subiu
Colheu-se o material
Com tanto esforço afinal
A missão ele cumpriu
Suor correndo no rosto
O Francelino cansado
Embora bem satisfeito
No vaso ficou sentado
Depois lavou sua mão
Limpou a sujeira do chão
Deu o caso por encerrado
Mas a surpresa foi grande
Quando a porta se abriu
Que foi entregar a latinha
Ninguém na sala ele viu
O expediente acabara
E o Francelino ficara
No banheiro e ninguém viu
De nada valeu tanto esforço
Pois o material na verdade
Depois de algumas horas
Perde a sua validade
E o Francelino arrasado
Voltou pro vaso e sentado
Fez votos de castidade
Depois de corrido um tempo
Em casa e desconfiado
À sua esposa confessou
Contando o que havia passado
Pediu que ajudasse no exame
Com medo de novo vexame
Que o líquido fosse tirado
E a mulher concordou
Em resolver a questão
Mas disse que só o fazia
Com uma só condição
Que ele usasse o vidrinho
Enchendo com todo o carinho
Seu ponto de ebulição
Assim fez o Francelino
E logo que terminou
Deu um pulo da sua cama
Com a mulher se arrumou
Correu pro laboratório
Entrou dentro do escritório
E o material entregou
A mulher ficou sentada
Despejando o que sobrou
Numa garrafa vazia
Assim tudo terminou
Agora ele repete o exame
Mesmo que ninguém reclame
Viciado ele ficou
Domingos Oliveira Medeiros
Restabelecido e atualizado
