— Me dá um dinheiro aí?!
Põe aqui no meu boné?!
Enche meu baú, aqui,
que ganhei do "seu" Mané?!
— Dinheiro não tenho não,
sou pobre qual jaburu,
mas faço suposição
do que há nesse baú.
— Já estou nele sentado
há mais de uma semana,
mas não tive o cuidado
de saber o que empana.
— Até logo, meu amigo,
que não seja uma cobra,
muito menos pé de figo,
tens que botar mãos à obra.
Pensando em mau agouro,
esforçou-se pra abrir;
o baú cheio de ouro
fez o mendigo sorrir.
***
Sou pobre como você,
ganhei um corpo e graça,
mas nunca eu quis saber
do que há nesta carcaça.
Da verdadeira riqueza,
que nós nunca encontramos,
nunca vimos tal beleza —
graça que esperdiçamos.
Buscamos no exterior
toda sorte e prazer,
segurança ou amor,
aprovação, bem-viver.
Mas há um grande tesouro
que nunca podemos ver,
que vale mais do que ouro,
pronto pra se preender.
Sentir-se em unidade
com a graça fustiga
a sua identidade,
sua maior inimiga.
Graça incomensurável
todos os seres permeia.
É una, inabalável,
é indivisível teia.
O saber dizer "adeus"
é a grande ilusão
de quem sucumbe nos breus
de toda separação.
Os medos e os conflitos,
sentimentos desastrados,
resultam de vários mitos,
que nos põem isolados.
Quando finda sofrimento,
o que pode nos restar,
a não ser melhor momento
pra nossa graça usar?
Graça não está somente
no além, pois, una sendo ,
existe em cada ente,
das mentes se protegendo.
Se estivermos atentos,
serenando nossas mentes,
cientes destes momentos,
da graça somos conscientes.
Recobrar nossos sentidos
com esses procedimentos,
pela graça possuídos,
iluminamos intentos.
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