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Cordel-->Continuação -- 02/07/2003 - 20:52 (Elpídio de Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Veja antes:===>O tempo é o entrave








Enquanto o ego está
dirigindo sua mente,
raros momentos terá
para sentir-se contente,

após a satisfação
de um supérfluo desejo.
Ele quer é proteção,
alimento e arejo.

De coisas ele precisa,
coisas do mundo de fora,
e, assim, muito pesquisa,
escolhe o que adora:

bens, status social,
trabalho, educação,
aparência mais "legal",
uma habilitação,

as ímpares relações,
a história pessoal,
os antigos "parentões",
político ideal,

e crença religiosa.
Nada disso é você!
Essa lista caprichosa
você pode entender,

quando a morte chegar.
E, então, vai descobrir
que deve se despojar
de tudo, e vai sentir

que o segredo da vida
é morrer, de preferência,
antes da sua partida,
que morte não tem essência.



Buscando profundamente
o seu interior,
não o procure na mente,
ele é exterior.

Você não tem que saber
sobre as atividades
de quem só lhe faz sofrer,
como fossem raridades.

E da mente nunca vem
solução conveniente
pra ela mesma, que tem
problemas, inconsciente.

Se você já aprendeu
que você mente não é,
o seu esforço já deu
pra compreender, ter fé.

Estudar a mente mais
só se você vai ser
um profissional dos ais,
e consultório vai ter.

Mas isso não levará
você pra além da mente.
E a ninguém curará
só estudando demente.

Já entendemos a base
da nossa inconsciência:
o agir qual camicase,
quando há aquiescência

para que o ego venha
exercer sua gerência,
com a sua falsa senha.
Em lugar da consciência,

falso eu interior,
substitui o eu profundo;
se permitido lhe for,
ele lhe faz moribundo.

Se caímos na besteira
de dar-lhe uvas maduras,
somos ramos de videira
cortados lá das alturas.

O ego é insaciável.
Vive carente, medroso,
por se sentir vulnerável,
ameaçado, nervoso.

Quando entendemos isso,
esse jeito anormal
da mente sem compromisso,
é mais do que natural

dispensar outros exames
das suas exibições,
dos mais diversos vexames
que ela põe em leilões.

Esse jeito anormal
com que a mente opera
não é questão pessoal
complexa, pra quem espera.

O ego adora isso:
a algo ter um apego,
quer ficar cheio de viço;
mesmo com desassossego,

fortalecer e manter
a si mesmo iludido,
acrescentar mais sofrer,
permanecer bem nutrido.

E o ego justifica
o sentido, que herdamos:
o eu interior fica
nos problemas que passamos.

E, quando isso ocorre,
o que menos desejamos
é nos livrar desse porre,
falso eu que adotamos.

Por isso, pode haver
um grande investimento
do ego que, sem perceber,
causa mágoa, sofrimento.

Assim, se a gente já tem
que a raiz mais rasteira
da inconsciência vem
da mente — dessa esteira

que vem nos obnubilar —
e, também, das emoções
que ela em nós gerar,
provocando convulsões,

damos um passo à frente
pra nos livrar do engano,
causado por essa mente,
reduzindo nosso dano.

Assim, presentes ficamos.
Quando estamos presentes,
todos nós já aceitamos
a mente com seus repentes,

sem nos deixar envolver
pelas suas artimanhas,
seu jeito de resolver,
suas maneiras tacanhas.

Ferramenta importante,
em si mesma valiosa,
a mente, mal operante,
causa maior rebordosa,

quando buscamos o eu
interior dentro dela,
e confundimos o seu,
falso, com tal cidadela...

que, realmente, preside
nossos melhores momentos,
iluminando a vide
que dá frutos nos eventos.


Como pode a piranha,
nadando, querer voar?
Como ter a artimanha
para a mente deixar?

Se mergulhados na mente,
fica quase impossível
uma ação transcendente,
um nível mais abrangível.

O segredo é acabar
com o tempo ilusório,
com quem a mente faz par,
um conluio esposório.

Tire o tempo da mente,
quando dele não precisa.
E a mente, reticente,
pára, fica indecisa.

À mente nos reduzir
é ao tempo nos prender.
A memória há de vir
para nos "esclarecer":

retrógrada, ao passado
nos impele pra lembrar;
anterógrada, um fado
sempre vai antecipar.

Cria elo infinito
com futuro e passado;
o presente, esquisito,
deixa de ser respeitado.

Interditar o presente,
impedir que ele seja,
é compulsão mais freqüente,
a memória nos bafeja.

Desse tempo ilusório
surge a identidade,
que vem do repositório —
memorial faculdade.

E o futuro contém
promessa de salvação,
além de trazer, também,
nossa "realização".

Esse tempo ilusão
nada tem de precioso,
a verdadeira razão
do existir primoroso

é um ponto fora disso:
o Agora, o real,
o único compromisso
da vida, atemporal.

O Agora é a única
coisa que é, que existe.
O presente é a túnica
mais eterna, que subsiste,

onde a vida labora,
o espaço mais constante.
A vida é o Agora,
a época fascinante,

o ponto que nos conduz,
além das barras da mente,
às portas do que reluz,
o Ser, conscientemente.

Uma época não há
sem que Agora exista,
e nem nunca haverá,
por mais que mente persista.



O que foi e o que vem
não são, por isso, reais?
Pois, o passado detém
as nossas credenciais,

e o que está à frente
atitudes determina,
que tomamos no presente
pra cumprir a nossa sina...

Esse é o raciocínio
que não captou a essência,
que não teve tirocínio,
só pensou, sem consciência.

Com a mente não se pode
entender esse assunto.
Ela faz o seu pagode,
mas você não é bestunto.

Por favor, prest"atenção:
ninguém vivencia nada,
não há realização,
nenhuma coisa pensada,

nada pode ser sentido,
que não seja no presente,
o Agora é remido
da ilusão inconsciente.

Nada jamais ocorreu
sem o Agora presente.
O que você concebeu
pra acontecer à frente

vai ocorrer no Agora,
pois ele abarca tudo,
nenhum fato fica fora,
nem objeto de estudo.

O passado na memória
é um traço, arquivado
na mente, como história
de um Agora de lado.

A retrógrada opera,
lembra coisas no presente.
O Agora só espera
o que vem ativamente;

Agora imaginado
é projeção da mente;
quando é realizado,
o Agora é presente.

Pensando no advir,
fazemos isso agora.
O que foi e há de vir
são mesmo coisas de fora,

que refletem o presente.
A luz nunca foi da lua,
e, do Agora reluzente,
ela em tudo atua.

O Agora só "empresta"
sua luz ao tempo vão,
realidade em festa
não entra em contra-mão.

A mente nunca alcança
esta profunda noção.
A consciência avança,
nasce a alteração:

o foco sofre desvio,
da mente para o Ser,
do tempo, que não tem brio,
pr"a o presente se ver.

E depois dessa entrega,
desse fluir da vontade,
e sem nenhuma refrega,
pura espontaneidade,

tudo, de repente, é;
parece vivo, reluz,
a energia da fé
vem do Ser, que nos conduz.

Veja a seguir==>>Continuação II




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