Em situações de vida
ameaçada, possivelmente,
a mente será tolhida,
o Ser estará presente.
Uma presença intensa,
serena, mas bem alerta.
Vem a notória defensa
da consciência aberta.
Embora inconscientes,
em tarefas perigosas,
as pessoas mais valentes
ficam conscienciosas
— em escaladas de montes,
corridas de autos, ralis
frente a rinocerontes,
jacarés ou javalis.
É que o Agora vem,
e elas, em tempo livre,
e dos pensares, também,
buscam "les joies de vivre".
Desviar a atenção,
nesses casos, do presente,
numa qualquer distração,
a morte é iminente.
Mas, pessoas que dependem
dessas tais atividades,
e da mente se defendem,
são particularidades.
Você não precisa disso.
No Agora você está,
com seu ego bem demisso,
nenhum risco nele há.
Desde a antiguidade,
os mestres tradicionais
apontam a validade
do Agora, naturais.
Ele é a chave mestra
pra espiritual nível,
e quem nisso se adestra
sente um prazer incrível.
Inda hoje é ‘segredo’,
pois, em templos e escolas,
nem mesmo um arremedo
disso citam, não dão bolas...
Numa igreja ouvimos
do Evangelho passagens,
mas nunca as consentimos,
nunca fazemos triagens.
Dizem que é coisa vã,
pra não nos inquietarmos
pela seguinte manhã,
pra nos conscientizarmos
de que o dia seguinte
não depende de ninguém,
não depende de pedinte,
pois autonomia tem;
que ninguém pode lançar
mão do arado e querer
o reino de Deus buscar,
olhando pra trás. Vai gemer.
Pouca gente reconhece
tudo isso que é dito,
que muito nos esclarece
e tem valor infinito.
Porém, tais ensinamentos,
feitos pra serem velados,
são os grandes fundamentos
que nos deixam transformados.
O que do zen se decora,
e melhor se trabalha,
é caminhar no Agora,
fino fio de navalha,
que corta o sofrimento
e situações de vida
que não somos no momento
do presente. Que guarida!
No Agora, a ausência
do tempo, todo o Mal
se dissolve. Há carência
de espaço temporal.
Mestre Rinzai desviava
do tempo seus seguidores;
o seu dedo levantava,
pra saber dos seus humores,
e perguntava, sereno:
— Neste exato instante,
livre de qualquer veneno,
em que não há o distante,
o que poderá faltar?
Uma questão consciente,
que a mente não responde,
feita para o discente
ir ao Agora de bonde.
Outra: "Se não é agora,
então quando?" Mui usada
pelo zen, em qualquer hora,
a todos endereçada.
Ponto central do sufismo,
braço místico, ascético,
que nos vem do islamismo,
é o ensinar frenético
do Agora, ao sufista:
que pertence ao presente.
E que tem, sempre à vista,
Rumi, poeta, docente:
"O que foi, o que advir,
ambos da nossa visão
ocultam Deus, o Existir,
o presente sem paixão.
Daí, nossa veemência,
pra nos iluminarmos bem,
sendo a incandescência
do tempo o que convém."
Eckhart, um mestre antigo,
resumiu num só conselho
de amigo pra amigo,
e escreveu num arnelho:
“O que impede a luz
de melhor nos alcançar
é o tempo, um capuz
que nos impõe o pensar.
O tempo é o entrave
maior para do Agora
alcançarmos nossa chave,
só o fogo o devora.”
Seja um incendiário!
Jogue o seu combustível
nesse pensar perdulário,
e faça o seu possível.
Clic"ali==>>Continuação III