A natureza é completa
Do campo cheio ao vazio
Desde a montanha deserta
Ao mais alegre baixio
Se vê no corpo do mundo,
Alto, baixo, Raso e fundo,
Luzes, trevas, céus e mares.
Máquina de peças perfeitas,
Além disso foram feitas
Nos seus devidos lugares
Flor é criança da relva
Pioneira no perfume
Já nasce exalando essência
No colo verde do cume
Pendão de leques dourados
Seus cílios são bafejados
No fôlego do vento bruto.
São suas pétalas vermelhas
Mina de mel das abelhas
Antecipação do fruto.
Duas forças naturais
Existem no arvoredo:
A rosa que exala essência
O espinho que causa medo
Aguçada cimitarra
Mão granfina não agarra
Porque os espinhas são
Pontas de lanças agudas
Forças de patrulhas mudas
Dominando uma nação.
Água é deusa apaixonada
No colo da terra alheia
Acariciando as poupas
Dos seios brancos da areia.
Na casca se debruça,
Canta, suspira e soluça
Apaixonando o luar,
Tangendo as espuma turvas
Pra despejá-las nas curvas
Das ondulações do mar.
Vento é cavalo incansável
Que não descansa um segundo
Cavalga nas direções
Dos quatro cantos do mundo
Mosêlo de crinas pampas
Que desce e que sobe as rampas
Que há no lombo da terra,
Que corta a neve em retalhos
Pra pendura-la nos galhos
Das umburanas da serra.
Pássaro, seresteiro inato
Poeta lírico e cantor
Enamorado da mata
Alimentado de amor,
Trapezista dos cipós
Atleta dos caracóis
Hábil nos balangandãs
Compositor campesino
Concertista vespertino
Despertador das manhãs
Fogo, monstro carrancudo
Leão de afiados dentes
Juba de pêlos queimantes
Língua de chamas ardentes
Corpo de estranha massa
De labareda e fumaça
E claridade de gênio
Dragão de força invencível
Formado de combustível,
Calor e oxigênio .
Homem, ser misterioso
Dotado de inteligência
Flutuante, sonhador,
Volúvel por excelência.
Pensa, projeta, constrói
Se arrepende e destrói
Prega a paz e faz guerra
Um predador inocente
Mas foi o maior presente
Que Deus ofertou a terra.