Eis os extremos da vida:
mocidade e juventude,
velhice e decrepitude,
um de vinda, outro de ida,
um entrada, outro saída,
um forte e energizado,
o outro débil e cansado,
um em falso, outro seguro.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
São dois seres naturais,
vivendo o mesmo presente,
um olhando para frente,
outro olhando para trás,
através de dois portais,
um aberto, outro fechado,
um agreste descampado,
e o outro um planalto escuro.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
Vejo o velho e a criança
no roçado da idade,
vai um colhendo a saudade
outro plantando a esperança,
um imagina a bonança
na dinâmica do arado,
e outro, do solo cansado
já imagina o monturo.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
No banco da existência
há dois cidadãos na fila,
um choraminga e cochila,
outro ri da resistência,
um pagando a previdência
e o outro aposentado,
é um tomando emprestado
e outro pagando juro.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
Velhice não é ruim,
mocidade não é prêmio,
mas vendo um jovem boêmio,
um idoso disse a mim:
eu também já fui assim,
já andei embriagado,
se não tivesse deixado,
teria o fim prematuro.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
Um certo sábio já disse:
todo velho foi criança,
nem toda criança alcança,
o pináculo da velhice,
o jovem sempre é o vice,
o velho é condecorado,
um no alto do sobrado
e o outro no pé do muro.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
Para gastar com alguém,
viver de festa e pagode,
o velho tem e não pode,
o novo pode e não tem,
o velho que vive bem,
tem seu dinheiro guardado,
o novo é aperreado,
não tem onde “cair duro”.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.
Eu vejo no homem novo
uma possibilidade,
algo de posteridade,
um pinto dentro do ovo,
mas o velho para o povo
é um fato comprovado,
é um fruto sazonado,
açucarado e maduro.
O novo busca o futuro
e o velho lembra o passado.